terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Página-a-página #90


«Tal como Elahi, Isa  temia que a felicidade fosse apenas a maneira que o universo tem de nos fazer sofrer, um método atroz que faz com que experimentemos a saciedade e uma espécie de alegria, para depois nos retirar tudo isso, nos puxar o tapete e nos levar a uma infelicidade de efeito mais profundo. A melhor maneira de fazer uma pessoa cair é levá-la para um lugar alto, o universo sabe fazer isso muito bem, sabe levar-nos para cima das coisas para melhor nos empurrar. Não se empurra uma pessoa que está no chão, é preciso ampará-la primeiro, é preciso fazê-la subir as escadas. É preciso que a pessoa sinta vertigens. É preciso que caia de muito alto. É assim que o universo ri.
Ou seja, Isa temia quase tudo. Temia subir escadas, temia que o destino o empurrasse de lá de cima. Receava alegrias, porque as alegrias são lugares altos, os lugares mais perigosos, os lugares que fazem com que as quedas possam ser dolorosas, violentas e fatais. Badini tentava fazê-lo sorrir com a ajuda das suas palavras de mãos. Isa ria, mas sabia conter-se naquilo que punha dentro de uma gargalhada.» 


Para onde vão os guarda-chuvas
Afonso Cruz

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