«-Os telescópios - disse Elahi - não servem para aumentar as estrelas, mas para diminuir o ser humano. São máquinas de nos fazer pequenos.
-As estrelas somos nós, disse Fazal Elahi. Quando Alá nos observa, é como quando nós olhamos para o céu: o que Ele vê são luzes. Cada homem é uma vela a brilhar no escuro, disse Tal Azizi, é assim Ele consegue ler à noite.
-Que tolice, primo. As estrelas são coisas lá em cima.
O mudo não respondeu, mas inclinou a cabeça para a esquerda e sacudiu uma formiga da perna.
Fazal Elahi pensava no equilíbrio do mundo, que era uma equação extremamente desequilibrada, mas que, apesar disso, exigia uma espécie de harmonia. Se um homem fala, entra-lhe silêncio pela boca, e se conquistou alguma felicidade pode esperar grandes tragédias.
Fazal Elahi não erraria na sua premonição, o universo gosta de equilibrios completamente desequilibrados, é feito de opostos de mãos dadas, um homem enorme a segurar a mão de uma menina pequenina. E, no caso de Elahi, esse equilibrio absurdamente/moralmente/esteticamente desequilibrado foi conseguido a prestações.»
Para onde vão os guarda-chuvas
Afonso Cruz
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