terça-feira, 15 de julho de 2014

Página-a-página #145

«E é isso que eleva um homem à imortalidade: as suas ideias tornam-se universais e fecundam toda a gente. As palavras podem entrar nos ouvidos de números impensáveis, incontáveis. A criação de vidas prolongam-nos até ao infinito. É tornando-nos muitos que chegamos a ser todos, que é o Todo e que é o Um. O homem tem de ser visto de vários ângulos ao mesmo tempo, sobrepostos. O mesmo homem deve ser cheio de incoerências e anacronismos e deve saber viver com isso. Colocarmo-nos no lugar dos outros, enchermo-nos de outros, dos inimigos, dos amigos, dos ladrões, das putas,dos ministros, dos taxistas, dos engenheiros, dos embusteiros, dos generosos, dos selvagens, dos mentirosos, dos avessos, dos miseráveis, dos budistas, dos banqueiros, dos anarquistas, dos pilotos de aviões, dos porcos, dos santos, dos cristãos, dos vizinhos, dos loucos, dos abomináveis, de todos, todos sem excepção, até dos familiares longínquos e próximos. Todos dentro de nós para que nos seja fácil compreender aquelas diferenças e, eventualmente, encontrar uma paz no meio dessa tensão. As guerras têm mais dificuldades de existir quando as pessoas se compreendem umas às outras.»
A Boneca de Kokoschka
Afonso Cruz

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