«Algumas coisas acontecem porque nós queremos que elas aconteçam, outras não. Por exemplo, cair não é uma coisa que se quer que aconteça, mas cair e conhecer alguém, pode ser. Cai-se porque se quer e porque não se quer, mas cair é igual, acontece sempre. E acontecer é sempre uma segurança, mesmo quando não fazemos qualquer ideia do que se passa, connosco ou à nossa volta, estamos sempre a acontecer, e isso parece-me bem, parece-me estável. E decidirmos deixar de acontecer não é nada fácil porque há imensa coisa que tem de se desfazer para se deixar de acontecer: deixar de respirar, deixar de comer, deixar de dormir, deixar de ouvir, deixar de ver, deixar de falar, deixar de conhecer, deixar de gostar, deixar de começar, deixar de pensar, deixar de convidar, deixar de acabar. Deixar não é nada fácil, é como acontecer, por vezes deixa-se porque se quer, por vezes é sem querer, mas deixa-se... Umas vezes faz pena, outras não, outras nem se dá por isso e só muito mais tarde é que percebemos que deixámos...»
odília ou a história das musas confusas
Patrícia Portela
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