segunda-feira, 2 de junho de 2014

Junho #7

Se um dia formos gaivotas deambularemos de volta para mergulhar no barulho insidioso da cidade, correndo o rio até ao nascer das águas para bebermos juntos da fonte dos versos rascunhados nas ruas do nosso refúgio. Seremos asas dos sonhos da nossa juventude na sabedoria dos anos da nossa velhice para voltarmos ao início da estória de um Pedro e de sua Inês.
Se um dia formos gaivotas acordaremos do sal à sombra da luz e sob penas choraremos a felicidade de um novo dia, renasceremos para morrer outra vez. Seremos ave que rasga impiedosamente o seio da sua mãe por entre as ruas encruzilhadas na vontade e na angústia. De cada jardim brotarão águas límpidas do ventre que nos fecundou e cada azul das águas será o entardecer da nossa cidade num refrescar de brisa salgada que nos alimenta. Viveremos, no entretanto, profundamente cada sobressalto do voo que rasa a loucura do corpo nas ânsias da alma. Se um dia formos gaivotas, voaremos.
Alexandra Oliveira Villar

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