«Todo o mundo é feito de antagonismos: bonito, feio, certo, errado, bom, mau, quente, frio, alto, baixo, seco, molhado, e por aí fora. Sempre associei a doença de Alzheimer a um final de festa, em que as luzes se vão apagando até à negritude total. Nesta metáfora, a festa terá sido a vida, pelo menos assim foi para Eva Lacerda, pintora que atravessou com relativa fama nacional toda a segunda metade do século vinte e que eu procurei em Lisboa (...)
-Sabe, a vida é como um jogo de xadrez -disse-me. - Você conhece as regras: começar/nascer, jogar/viver e acabar/morrer e sabe, ou deverá saber, que todas as suas jogadas têm consequências no jogo. Umas maiores, outras menores, mas todas têm. E que, à sua frente, está um adversário que, no caso da vida, podemos acreditar que seja tudo aquilo que acontece. Daí ser tão importante uma estratégia. Se jogarmos/vivermos sem objectivos, as nossas decisões tornam-se meramente relativas e acabamos por fazer o jogo do adversário e não aquele que desejaríamos. (...) Sabe, às vezes a melhor defesa é mesmo a defesa.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
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