segunda-feira, 30 de junho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
Uma boa história nunca acaba #88
-It's a good life, Hazel Grace.
Página-a-página #139
«Algumas coisas acontecem porque nós queremos que elas aconteçam, outras não. Por exemplo, cair não é uma coisa que se quer que aconteça, mas cair e conhecer alguém, pode ser. Cai-se porque se quer e porque não se quer, mas cair é igual, acontece sempre. E acontecer é sempre uma segurança, mesmo quando não fazemos qualquer ideia do que se passa, connosco ou à nossa volta, estamos sempre a acontecer, e isso parece-me bem, parece-me estável. E decidirmos deixar de acontecer não é nada fácil porque há imensa coisa que tem de se desfazer para se deixar de acontecer: deixar de respirar, deixar de comer, deixar de dormir, deixar de ouvir, deixar de ver, deixar de falar, deixar de conhecer, deixar de gostar, deixar de começar, deixar de pensar, deixar de convidar, deixar de acabar. Deixar não é nada fácil, é como acontecer, por vezes deixa-se porque se quer, por vezes é sem querer, mas deixa-se... Umas vezes faz pena, outras não, outras nem se dá por isso e só muito mais tarde é que percebemos que deixámos...»
odília ou a história das musas confusas
Patrícia Portela
Uma boa história nunca acaba #87
Labor Day (2013). Drama. É o final do verão, vésperas do Dia do Trabalho na cidade de Holton Mills. Henry é um rapaz de 13 anos, que tem poucos amigos, passa o dia a ler, a ver televisão ou a sonhar acordado. A única companhia de Henry é a sua mãe, Adele (Kate Winslet), uma ex-dançarina divorciada há muito tempo. Adele tem um grave segredo que não lhe permite ser feliz. Mas tudo muda no Dia do Trabalho, quando Frank (Josh Brolin), um homem misterioso e ferido, aproxima-se de Henry e pede a sua ajuda. Nos próximos cinco dias, Henry aprende algumas das lições mais importantes da sua vida: como lançar uma bola de baseball, como fazer uma torta, como não sofrer com a inveja, o poder da traição e a importância de pensar nos outros antes de si mesmo. Um filme intrigante, sem dúvida, que nos relembra que não devemos julgar as pessoas pelas aparências ou por aquilo que os outros dizem delas; que nem sempre as nossas acções vão de encontro àquilo que somos ou pensamos. Vale a pena ver.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Página-a-página #138
-Desculpe, mas creio não estar a acompanhá-lo.
-Há uma incompletude no ser, que raramente é assomada: o tudo querer viver e o tudo crer poder ter vivido é próprio de quem quer pôr prateleiras na vontade e na acção, que quer ser capaz de viver todas as coisas com toda a sua existência, com toda a memória e na posse de todos os sentidos como nunca os teremos conscientemente. Talvez até imaginemos as coisas, todas as coisas, sem a inevitabilidade dos problemas, contanto sejam tão certos como o crepitar da folhagem no outono. Ou mais concomitante ainda: com a certeza da resolução passiva ou ativa de todos eles, os problemas.
Mais um gole de absinto.
-Resta-nos o brio de querer estar acima de nós mesmos, como se nos pudéssemos manipular e dominar como uma marioneta.
Nas reticências de Campos que foi Pessoa, não houve prateleiras nem consequência na vontade, há a memória do que somos em conflito com a memória do que queremos ser. Diz uma velha canção que as reticências são para colocar entre parênteses como se fossem silêncio ricocheteando entre têmporas.
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
Página-a-página #137
«-As deduções primárias são sempre moldadas por quem somos. Um poeta julgará que vê sempre o motivo da acção, o escultor verá primeiro a acção e dali a alma. A senhora dona, ao procurar identificação com as palavras, julga ter visto nelas um pouco de si ou dos seus.
-Ainda que primária, qual é a sua dedução, excelentíssimo Fernando?
-A adjectivação da senhora dona estiola a relevância do conhecimento que das 'Reticências' detenho no fundo do meu ser - refletiu, com a cabeça comprimida entre as mãos. - Pleonásticos o ser e a memória. (...) Pois bem, como saberá, arrumar a vida não é empreitada de fácil monta. Disciplinar rigorosamente o que se pode fazer do que se quer fazer e até do que se deve. Estes conceitos definem toda a nossa existência e por isso, apesar de se vestirem de fáceis palavras, complexos se tornam na execução - declarou Pessoa, engolindo sem esforço mais um trago de absinto.
- A saudade hipoteca o futuro. De cada vez que a saudade nos vence há sempre um pedaço de futuro que se perde, que já aconteceu. Não é possível trazer o passado roubado na algibeira da vida.
(...) - Amar tudo o que foi, mesmo tudo o que já não é, eis a silhueta da saudade.
-E amar tudo o que é, tudo o que vai ser e não saber se tudo o que vai ser chegará a sê-lo. Chegaremos a tempo a tudo o que vai ser? Não será essa uma angustia sem o desígnio da saudade? - Interrompi. Senti a ausência do poeta que, esboçando um sorriso, continuou.
-A inconsequência da avidez não deve desmerecer o propósito de saciá-la.»
-Ainda que primária, qual é a sua dedução, excelentíssimo Fernando?
-A adjectivação da senhora dona estiola a relevância do conhecimento que das 'Reticências' detenho no fundo do meu ser - refletiu, com a cabeça comprimida entre as mãos. - Pleonásticos o ser e a memória. (...) Pois bem, como saberá, arrumar a vida não é empreitada de fácil monta. Disciplinar rigorosamente o que se pode fazer do que se quer fazer e até do que se deve. Estes conceitos definem toda a nossa existência e por isso, apesar de se vestirem de fáceis palavras, complexos se tornam na execução - declarou Pessoa, engolindo sem esforço mais um trago de absinto.
- A saudade hipoteca o futuro. De cada vez que a saudade nos vence há sempre um pedaço de futuro que se perde, que já aconteceu. Não é possível trazer o passado roubado na algibeira da vida.
(...) - Amar tudo o que foi, mesmo tudo o que já não é, eis a silhueta da saudade.
-E amar tudo o que é, tudo o que vai ser e não saber se tudo o que vai ser chegará a sê-lo. Chegaremos a tempo a tudo o que vai ser? Não será essa uma angustia sem o desígnio da saudade? - Interrompi. Senti a ausência do poeta que, esboçando um sorriso, continuou.
-A inconsequência da avidez não deve desmerecer o propósito de saciá-la.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
Uma boa história nunca acaba #86
«And I will never, never again run away from life or from love, either.»
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Página-a-página #136
«Melodias de piano ressoavam das colunas pelo escritório cheio de livros, no qual todas as noites me sentei com uma caneca de café fumegante, que adormecia, já frio, no final da maratona de escrita. Olhava as lombadas dos livros, organizados por temas, e pensava no quão reféns somos dos livros que lemos, das vozes que lá vivem em folhas povoadas de razão. onde deixamos inquietudes escondidas nas costas das palavras, cúmplices, num pacto para a vida; o eu que lá ficou já não sou eu, nem aquele livro é o tal em que peguei pela primeira vez.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
sábado, 21 de junho de 2014
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Página-a-página #135
«Talvez só sejamos nós mesmos quando nos movemos pela intuição, quando nos ouvimos. Somos sempre uma criança a escolher um dos túneis dos labirintos. É uma voz que vem de dentro, sopro de vento no pescoço, veemência no peito, uma certeza sibilina não consumada. Também nos engana, mas age sempre consoante a nossa maior verdade.
Errar também faz parte dessa verdade, mas prefiro errar sendo fiel a quem sou, do que acertar não sendo eu. Neste quarto, com vista para o azul sem fim, inundado de luz e de brasas, não sei quem sou. Às vezes acho que sou pelo menos duas: a mulher que os outros veem e a que se vê a si mesma.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos deuses, assim se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papeis meio compostos,
Os outros também sou eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica a metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distracção de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa, nem outra...
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos deuses, assim se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papeis meio compostos,
Os outros também sou eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica a metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distracção de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa, nem outra...
Álvaro de Campos
terça-feira, 17 de junho de 2014
Página-a-página #134
«Todas as dores persistem. Todos os amores subsistem. Percebes a pungência de cada coisa? O que fica para ti não são os momentos, mas a emoção que sentiste ao viveres aquilo que acontece. Comigo não. Tudo prevalece. A recordação em estado puro: uma canção, um adeus ou a primeira frase de um livro. Ou tudo em simultâneo, como se todas as coisas e acontecimentos dialogassem entre si. A ideia da morte permanece em mim com a mesma intensidade das boas memórias (é o esquecimento que nos torna felizes). Ninguém é morto ou está morto. Ser ou estar implica existência. A morte é a ausência, já não está, já não é. Só no domínio do pensamento será ou viverá o ausente. Da vida, só a própria faz parte.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
Histórias com história #3
Parenthood (2010-). Série americana que retrata a história da família Braverman. Desde Zeek e Camille, membros mais velhos até aos seus quatro filhos Adam, Sarah, Crosby e Julia e aos seus netos, Max, Haddie, Amber, Drew, Jabbar, Sydney, Victor, Nora e Aida, o membro mais recente da família. É também sobre Joel, o marido de Julia, Kristina, a mulher de Adam, Jasmine, mulher de Crosby, entre outros. Entre assuntos como doença, traição, separação, desemprego, dependência, ser-se mãe solteira, etc, o que esta família mais nos ensina é a arte de amar, o significado da união, da comunidade e o verdadeiro valor da palavra família. É sem dúvida uma excelente série, digna de ser vista por todas as idades e por todo o mundo, porque tal como o próprio nome indica, é sobre ser-se pais e tudo o que isso implica. Neste momento vai a caminho da 6ª temporada. Aconselha-se!!!
Página-a-página #133
«Todo o mundo é feito de antagonismos: bonito, feio, certo, errado, bom, mau, quente, frio, alto, baixo, seco, molhado, e por aí fora. Sempre associei a doença de Alzheimer a um final de festa, em que as luzes se vão apagando até à negritude total. Nesta metáfora, a festa terá sido a vida, pelo menos assim foi para Eva Lacerda, pintora que atravessou com relativa fama nacional toda a segunda metade do século vinte e que eu procurei em Lisboa (...)
-Sabe, a vida é como um jogo de xadrez -disse-me. - Você conhece as regras: começar/nascer, jogar/viver e acabar/morrer e sabe, ou deverá saber, que todas as suas jogadas têm consequências no jogo. Umas maiores, outras menores, mas todas têm. E que, à sua frente, está um adversário que, no caso da vida, podemos acreditar que seja tudo aquilo que acontece. Daí ser tão importante uma estratégia. Se jogarmos/vivermos sem objectivos, as nossas decisões tornam-se meramente relativas e acabamos por fazer o jogo do adversário e não aquele que desejaríamos. (...) Sabe, às vezes a melhor defesa é mesmo a defesa.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Página-a-página #132
«Olhamos para as palavras para nos olharmos, como se fôssemos mais o que lemos do que aquilo que sentimos mas, neste domínio, não é a dialéctica que me resolve os problemas.
As memórias comuns têm o poder de sublimar a nobreza que aos atos escasseia, a dor feita cicatriz que o corpo apagou. Comigo não. Todos os dias me lembrei de ti. Me lembrei de nós. De nós, como queríamos ser. De nós, como sonhámos. Das nossas mãos que imaginávamos velhas e rugosas, com as marcas sanguíneas das alianças.
(...)
Há homens a quem falta a coragem de serem felizes, homens com minúscula que preferem a nobreza da solidão pela pacifica falta de ambas. Nem felizes, nem sós.»
A Persistência da memória
Daniel Oliveira
sábado, 14 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
Bom fim-de-semana a todos!
Não tropecem tanto na vida e reparem na magia que nos rodeia todos os dias por toda a parte. Bom fim-de-semana a todos os seguidores!
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Página-a-página #131
«Se eu tivesse coração (como aprendi mais tarde que todos os Homens Espaciais têm), este teria parado. Mas felizmente as emoções no Mundo Plano são simples sequências de palavras fortes, não envolvem alterações do estar, e por isso consegui continuar a pensar.
O movimento é a medida de tempo constante dos Seres Espaciais! Os Homens Espaciais ocupam Espaço! Nós apenas existimos mas vocês ocupam Espaço!
Os Homens Espaciais são letras cheias.
Pontos com coisas lá dentro. Com volume!
Eu precisava de volume.
Vocês têm VOLUME.
Vocês têm uma parte de dentro e uma parte de fora que provoca movimento. Movimento sem letras, no Espaço! Movimento com volume e sem chão! Um movimento em suspensão!
Eu consigo ir para norte, sul, este, oeste, noroeste, nordeste, sudeste, sudoeste, e por aí fora, mas vocês conseguem ir para cima e para baixo! Vocês, quando saem de casa, vão para cima e não para norte!»
Para cima e não para norte
Patrícia Portela
quarta-feira, 4 de junho de 2014
terça-feira, 3 de junho de 2014
Uma boa história nunca acaba #85
«One day you'll be free.»
Breathe in (2013). Drama. Romance. Um dos filmes seleccionados para o festival Sundance de 2013. Retrata a história de uma família que acolhe uma estudante de intercâmbio, e de como as suas vidas são afectadas por essa chegada. O filme aborda vários temas como a juventude irremediavelmente perdida, o amor, a culpa, a família, o desejo, entre outros. "As músicas mais bonitas são aquelas que chegam ao coração de alguém que nos entende". Este blog aconselha!
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Junho #7
Se um dia formos gaivotas deambularemos de volta
para mergulhar no barulho insidioso da cidade, correndo o rio até ao nascer das
águas para bebermos juntos da fonte dos versos rascunhados nas ruas do nosso
refúgio. Seremos asas dos sonhos da nossa juventude na sabedoria dos anos da
nossa velhice para voltarmos ao início da estória de um Pedro e de sua Inês.
Se um dia formos gaivotas acordaremos do sal à
sombra da luz e sob penas choraremos a felicidade de um novo dia, renasceremos
para morrer outra vez. Seremos ave que rasga impiedosamente o seio da sua mãe
por entre as ruas encruzilhadas na vontade e na angústia. De cada jardim
brotarão águas límpidas do ventre que nos fecundou e cada azul das águas será o
entardecer da nossa cidade num refrescar de brisa salgada que nos alimenta.
Viveremos, no entretanto, profundamente cada sobressalto do voo que rasa a
loucura do corpo nas ânsias da alma. Se um dia formos gaivotas, voaremos.
Alexandra Oliveira Villar
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