Seria preciso chamar a isto desespero?
Não sabia. Talvez fosse desespero. Turguéniev talvez lhe chamasse desencanto. Dostoiévski, talvez inferno. Somerset Maugham talvez escolhesse chamar-lhe realidade. Mas, usassem o termo que usasse, este era eu.
Não conseguia imaginar o mundo da imortalidade. Talvez aí pudesse recuperar as coisas que havia perdido e criar um mundo novo. Talvez existisse lá alguém que me aplaudisse, me felicitasse. E talvez tivesse sorte e conseguisse ter uma vida mais proveitosa, mais de acordo com a minha personalidade. De qualquer forma, seria um outro eu, um eu que nada teria que ver comigo. O meu eu de agora tinha o meu próprio ego. Era um facto histórico, algo que ninguém conseguia alterar.»
O ímpiedoso país das maravilhas e o fim do mundo
Haruki Murakami
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