sábado, 5 de dezembro de 2015

Página-a-página #221

«Habituado que estou a trabalhar em qualquer lugar, sei do que falo quando digo que nem sempre é fácil encontrar um sofá cómodo onde valha a pena repousar o corpinho quando chega a hora de passar pelas brasas. Os sofás, na sua maioria, são comprados ao acaso, sem qualquer critério, revelando-se, até mesmo no caso dos mais luxuosos, uma autêntica decepção assim que a pessoa decide deitar-se em cima deles. Isto para dizer que poucos são os que valem realmente a pena. Não compreendo como é que, na hora de comprar um sofá, as pessoas podem dar-se ao luxo de ser tão pouco exigentes.
  Defendo a teoria -ainda que tal possa não passar de um preconceito da minha parte - de que a escolha de um sofá diz muito acerca do seu proprietário. Um sofá constitui, à sua maneira, um mundo compacto e inviolável. Isso, porém, é uma coisa que só aqueles que cresceram comodamente sentados num bom sofá podem entender. Acontece o mesmo aos que cresceram a ler bons livros ou a ouvir boa música. Funciona assim.»

O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo
Haruki Murakami

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