terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Página-a-página #222

«(...)A maior parte das pessoas não consegue emendar os seus próprios defeitos. As tendências do ser humano, de uma forma geral, consolidam-se antes dos vinte e cinco, e depois disso, por mais que uma pessoa se esforce, dificilmente consegue mudar a sua profunda natureza. O problema vem da maneira como o mundo exterior reage às nossas tendências. Com a ajuda do uisque, dei por mim cada vez mais identificado com Rudin. Com as personagens dos romances de Dostoiévski é raro sentir essa empatia, ao contrário do que acontece com as de Turguéniev. Simpatizo com todas elas. Talvez por terem uma data de defeitos. E nós, os que temos os nossos defeitos, tendemos a identificarmo-nos com aqueles que têm tantos defeitos como nós. Verdade seja dita que os defeitos exemplificados pelas personagens de Dostoiévski, muitas vezes, não se afiguram como defeitos, e por isso sou incapaz de sentir por eles uma empatia total. No caso de Tolstói, já que estou a falar do assunto, os defeitos dos seus heróis revelam-se de tal forma desmensurados e transcedentais que eles tendem a tornar-se monumentos estáticos.»
O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo
Haruki Murakami

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