Youth (2015). Drama. Fred e Mick são dois velhos amigos com quase oitenta anos que se encontram a desfrutar de um período de férias num hotel encantador, no sopé dos Alpes. Fred é um maestro e compositor aposentado, sem intenção de voltar à sua carreira musical que abandonou há muito tempo, enquanto Mick é um realizador, que ainda trabalha, empenhado em terminar o guião do seu mais recente filme. Ambos sabem que os seus dias estão contados e decidem enfrentar o seu futuro juntos. No entanto, mais ninguém para além deles parece preocupado com o passar do tempo ... Para mim este filme foi como que um presente para este novo ano que se avizinha. Tem uma beleza peculiar, como que uma peça de arte que nos faz pensar e pôr as coisas em perspectiva. Acredito que nem toda a gente apreciará este tipo de filme; trata-se certamente de um filme um tanto ou quanto parado e monótono mas a mensagem que me transmitiu deixou-me com um sorriso nos lábios. Ainda em exibição nos cinemas, este blog deixa aqui a dica!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
Página-a-página #225
«Teria querido desfazer-me em lágrimas, mas não podia chorar. Era demasiado adulto para o fazer, tinha demasiadas experiências na minha vida. Neste mundo existe um tipo de tristeza que não te permite verter lágrimas. É uma das coisas que não é possível explicar a ninguém e, mesmo que pudesses, ninguém te compreenderia. E essa tristeza, sem mudar de forma, vai-se acumulando em silêncio no teu coração como a neve numa noite sem vento.
Uma vez, quando era mais novo, tentara traduzi-la em palavras. Mas por mais que me esforçasse por encontrar as palavras adequadas, não conseguira transmiti-la a ninguém, nem sequer a mim mesmo, e abandonara a tentativa. De modo que bloqueara as palavras, bloqueara o meu coração. Quando é tão profunda, a tristeza nem sequer se permite metamorfosear-se em lágrimas.»
O Impíedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo
Haruki Murakami
domingo, 27 de dezembro de 2015
12 livros para 2016
À semelhança do post que fiz aqui no blog no ano passado, vou também fazer uma listinha de livros que tenciono ler este ano e que estejam de alguma forma relacionados com o mês em questão. Não quer dizer que os leia por esta ordem, simplesmente vou tentar lê-los ao longo do ano.
4. Um livro de um género que não costumo ler: Sete minutos depois da meia-noite de Patrick Ness.
5. Um clássico: Orgulho e Preconceito de Jane Austen.
7. Um livro que quero ler no verão: Uma terra distante de Daniel Mason.
8. Um autor que quero conhecer: Vergílio Ferreira com o livro Aparição.
9. Um livro que me ofereceram: Quando os lobos uivam de Aquilino Ribeiro.
10. Um livro que quero pedir emprestado: A trilogia Millennium de Stieg Larsson.
12. Um livro que quero ler à lareira: A trilogia da Neblina de Carlos Ruiz Zafón.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Histórias com história #14
Blind Spot (2015-). Uma mulher completamente tatuada é descoberta nua no meio de Times Square, Nova Iorque, sem ter a mínima ideia do que lhe aconteceu. As coisas ainda se tornam mais estranhas quando é descoberto o nome de um agente do FBI tatuado nas suas costas. Jane, o Agente Weller e o resto da equipe do FBI logo descobrem que cada marca em seu corpo é um crime a ser resolvido: uma jornada que poderá levar à verdadeira identidade de Jane. Esta é a premissa da série que apesar de ainda só ter uma temporada disponível, promete grandes emoções e têm ainda imensos mistérios por resolver. Aqui fica a dica para quem é adepto de séries de acção!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
sábado, 19 de dezembro de 2015
Página-a-página #224
«No passado, quando era mais jovem, acreditara que conseguiria vir a ser qualquer coisa diferente de mim mesmo. Inclusivamente, pensara que poderia abrir um bar em Casablanca e conhecer Ingrid Bergman. Ou também, numa atitude mais realista - e deixando de lado se, de facto, era ou não mais realista -, acreditara que poderia levar uma vida mais proveitosa e mais de acordo com a minha própria personalidade. Chegara mesmo a treinar para me transformar interiormente com esse objectivo. Lera The Greening of America, vira três vezes Easy Rider. Mas, apesar de tudo isto, acabava sempre a regressar ao mesmo sítio, como um barco com o leme torcido. Era o "meu eu". O "meu eu" não ia a lado nenhum. O "meu eu" estava aqui, à espera de que eu regressasse.
Seria preciso chamar a isto desespero?
Não sabia. Talvez fosse desespero. Turguéniev talvez lhe chamasse desencanto. Dostoiévski, talvez inferno. Somerset Maugham talvez escolhesse chamar-lhe realidade. Mas, usassem o termo que usasse, este era eu.
Não conseguia imaginar o mundo da imortalidade. Talvez aí pudesse recuperar as coisas que havia perdido e criar um mundo novo. Talvez existisse lá alguém que me aplaudisse, me felicitasse. E talvez tivesse sorte e conseguisse ter uma vida mais proveitosa, mais de acordo com a minha personalidade. De qualquer forma, seria um outro eu, um eu que nada teria que ver comigo. O meu eu de agora tinha o meu próprio ego. Era um facto histórico, algo que ninguém conseguia alterar.»
Seria preciso chamar a isto desespero?
Não sabia. Talvez fosse desespero. Turguéniev talvez lhe chamasse desencanto. Dostoiévski, talvez inferno. Somerset Maugham talvez escolhesse chamar-lhe realidade. Mas, usassem o termo que usasse, este era eu.
Não conseguia imaginar o mundo da imortalidade. Talvez aí pudesse recuperar as coisas que havia perdido e criar um mundo novo. Talvez existisse lá alguém que me aplaudisse, me felicitasse. E talvez tivesse sorte e conseguisse ter uma vida mais proveitosa, mais de acordo com a minha personalidade. De qualquer forma, seria um outro eu, um eu que nada teria que ver comigo. O meu eu de agora tinha o meu próprio ego. Era um facto histórico, algo que ninguém conseguia alterar.»
O ímpiedoso país das maravilhas e o fim do mundo
Haruki Murakami
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Uma boa história nunca acaba #140
The dressmaker (2015). Drama. Depois de muitos anos de exílio, Myrtle Tilly regressa à pequena cidade onde nasceu, na Austrália, para cuidar da mãe idosa, que se encontra muito doente. Tilly tinha saído dali muito jovem, devido a falsas acusações de assassinato. Hoje ela é uma mulher sofisticada que aprendeu os segredos da alta-costura com Madeleine Vionnet, uma das mais famosas costureiras de Paris (França). Agora, recorrendo aos seus dotes artísticos, Tilly decide transformar a visão dos habitantes da cidade mostrando, às pessoas que tanto mal lhe fizeram, que a vingança é doce e sabe ainda melhor se for servida fria…Estreado no Festival de Cinema de Toronto, uma comédia em estilo “western” que se baseia no “best-seller” – e obra de estreia – da escritora australiana Rosalie Ham. Pessoalmente o que tenho a dizer sobre este filme é que na sala de cinema onde eu assisti houve imensas gargalhadas por parte dos espectadores e houve alturas onde a emoção falou mais alto e lágrimas rolaram sobre as faces... Eu acho que é um filme muito vompleto, com imagens de tirar o fôlego, cenas muito marcantes visualmente, actores de luxo e uma história que certamente ainda recordarei daqui por algum tempo. Sem dúvida que este blog aconselha!
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
domingo, 13 de dezembro de 2015
Página-a-página #223
«-Será por minha culpa que não consegues abrir o teu coração? - perguntou ela, um belo dia. - Eu não posso corresponder aos teus sentimentos, e talvez por isso te feches tanto...
Estávamos os dois, como acontecia muitas vezes, nas escadinhas que partiam do centro da Ponte Velha e iam dar à ilhota, entretidos a seguir com os olhos a corrente. A Lua pálida e fria, reduzida a uma pequena lasca, reflectia-se temerosa nas águas do Rio. (...)
Que estranho, pensei. As pessoas associam o coração ao calor. Mas não há relação nenhuma entre o coração e o calor do corpo.
-Não, não é bem assim -respondi-lhe. -Se não te abro o meu coração, é um problema exclusivamente meu. Tu não tens culpa. Acontece que eu não estou seguro dos meus sentimentos, daí que me sinta confuso.
-Nesse caso, nem sequer estás em condições de perceber muito bem o que é o coração?
-Nem sempre consigo compreendê-lo, é certo -admiti. -Há alturas em que só percebemos o que nos vai na alma muito depois, quando já é demasiado tarde. Na maioria dos casos, as pessoas têm de tomar decisões e vêm-se obrigadas a agir sem estar seguras dos seus sentimentos, e isso deixa-nos desorientados, a nós e aos outros.
-Como é que o coração pode ser uma coisa tão imperfeita? -atirou-me ela, sorrindo.
Tirei as mãos dos bolsos e contemplei-as à luz da Lua. Banhadas por aquela tonalidade leitosa, pareciam um par de estátuas desproporcionadas, em miniatura.
-Também é essa a minha opinião -declarei. -O coração é algo de muito imperfeito. Mas deixa vestígios, e nós podemos seguir esses vestígios, como se fossem pegadas na neve.
-E onde conduzem essas pegadas?
-A nós mesmos -respondi. -O coração é assim. Sem coração não chegas a lado nenhum.
Levantei a cabeça e olhei para cima. A Lua de inverno flutuava no céu da Cidade cercada pela alta Muralha, emitindo uma luz exageradamente brilhante, quase incongroente.
-Tu não tens culpa de nada -repeti, em jeito de consolação.»
Estávamos os dois, como acontecia muitas vezes, nas escadinhas que partiam do centro da Ponte Velha e iam dar à ilhota, entretidos a seguir com os olhos a corrente. A Lua pálida e fria, reduzida a uma pequena lasca, reflectia-se temerosa nas águas do Rio. (...)
Que estranho, pensei. As pessoas associam o coração ao calor. Mas não há relação nenhuma entre o coração e o calor do corpo.
-Não, não é bem assim -respondi-lhe. -Se não te abro o meu coração, é um problema exclusivamente meu. Tu não tens culpa. Acontece que eu não estou seguro dos meus sentimentos, daí que me sinta confuso.
-Nesse caso, nem sequer estás em condições de perceber muito bem o que é o coração?
-Nem sempre consigo compreendê-lo, é certo -admiti. -Há alturas em que só percebemos o que nos vai na alma muito depois, quando já é demasiado tarde. Na maioria dos casos, as pessoas têm de tomar decisões e vêm-se obrigadas a agir sem estar seguras dos seus sentimentos, e isso deixa-nos desorientados, a nós e aos outros.
-Como é que o coração pode ser uma coisa tão imperfeita? -atirou-me ela, sorrindo.
Tirei as mãos dos bolsos e contemplei-as à luz da Lua. Banhadas por aquela tonalidade leitosa, pareciam um par de estátuas desproporcionadas, em miniatura.
-Também é essa a minha opinião -declarei. -O coração é algo de muito imperfeito. Mas deixa vestígios, e nós podemos seguir esses vestígios, como se fossem pegadas na neve.
-E onde conduzem essas pegadas?
-A nós mesmos -respondi. -O coração é assim. Sem coração não chegas a lado nenhum.
Levantei a cabeça e olhei para cima. A Lua de inverno flutuava no céu da Cidade cercada pela alta Muralha, emitindo uma luz exageradamente brilhante, quase incongroente.
-Tu não tens culpa de nada -repeti, em jeito de consolação.»
O Impíedoso país das maravilhas e o fim do mundo
Haruki Murakami
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Wishlist de Natal
Olá a todos, espero que esteja tudo bem convosco. Hoje decidi trazer uma coisinha diferente aqui ao blog e é então a minha wishlist de livrinhos que eu gostaria de receber no Natal. Sei que provavelmente vou receber algum ou alguns deles porque já andei a rondar a árvore de natal e vi lá uns embrulhinhos da fnac portanto cheirou-me a livros ^^ São então...
O primeiro livrinho que vos mostro é de Carlos Ruiz Zafón, autor de A Sombra do Vento, que foi um dos livros que eu devorei completamente e portanto como eu li toda a triologia dos livros esquecidos, da qual esse faz parte, espero também vir a gostar desta Trilogia da Neblina. A editora é a Planeta e a edição é de 2015.
O segundo livrinho é então Toda a Luz que não podemos ver de Anthony Doerr publicado pela editora Presença. Este livro ganhou o prémio Pulitzer este ano e é já um dos best-sellers do ano, bastante aclamado pela imprensa. É também comparado ao livro A rapariga que roubava livros e portanto tenho bastante curiosidade acerca dele.
Também vencedor do prémio Pulitzer, desta vez em 2014 temos O Pintassilgo de uma autora que já me é familiar, Donna Tartt. Esta escritora publicou também A história secreta, também editado pela Presença, que é outro dos livros que eu devorei num abrir e fechar de olhos. Estou portanto bastante curiosa também em relação à seu mais aclamado e recente obra.
Em relação a este livrinho cujo autor, Afonso Cruz, também não deve ser nada estranho aqui no blog, trago-vos a sua mais recente obra, Flores, publicada pela editora Companhia das letras. Creio que este seja o autor português que mais li neste último ano pois iniciei-me na sua obra precisamente no natal do ano passado com a publicação do livro Para onde vão os guarda-chuvas e desde então que tenho lido bastante.
Claro que há muitos mais livros que me chamam a atenção e que eu adoraria ler como por exemplo As obras-primas de T.S. Spivet de Reif Larsen, cujo filme já saiu nos cinemas e que também já tem um post aqui no blog, Estamos todos completamente fora de nós, de Karen Joy, As flores de Lótus, o mais recente livro do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos, etc, etc, etc... Enunciei apenas os que considerei mais relevantes e relativamente recentes e que espero vir a receber, nem que seja pelo menos um... E vocês? Têm algum livrinho que gostariam de receber pelo natal? Contem-me tudo aqui nos comentários! Até à próxima!
O primeiro livrinho que vos mostro é de Carlos Ruiz Zafón, autor de A Sombra do Vento, que foi um dos livros que eu devorei completamente e portanto como eu li toda a triologia dos livros esquecidos, da qual esse faz parte, espero também vir a gostar desta Trilogia da Neblina. A editora é a Planeta e a edição é de 2015.
O segundo livrinho é então Toda a Luz que não podemos ver de Anthony Doerr publicado pela editora Presença. Este livro ganhou o prémio Pulitzer este ano e é já um dos best-sellers do ano, bastante aclamado pela imprensa. É também comparado ao livro A rapariga que roubava livros e portanto tenho bastante curiosidade acerca dele.
Também vencedor do prémio Pulitzer, desta vez em 2014 temos O Pintassilgo de uma autora que já me é familiar, Donna Tartt. Esta escritora publicou também A história secreta, também editado pela Presença, que é outro dos livros que eu devorei num abrir e fechar de olhos. Estou portanto bastante curiosa também em relação à seu mais aclamado e recente obra.
Em relação a este livrinho cujo autor, Afonso Cruz, também não deve ser nada estranho aqui no blog, trago-vos a sua mais recente obra, Flores, publicada pela editora Companhia das letras. Creio que este seja o autor português que mais li neste último ano pois iniciei-me na sua obra precisamente no natal do ano passado com a publicação do livro Para onde vão os guarda-chuvas e desde então que tenho lido bastante.
Claro que há muitos mais livros que me chamam a atenção e que eu adoraria ler como por exemplo As obras-primas de T.S. Spivet de Reif Larsen, cujo filme já saiu nos cinemas e que também já tem um post aqui no blog, Estamos todos completamente fora de nós, de Karen Joy, As flores de Lótus, o mais recente livro do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos, etc, etc, etc... Enunciei apenas os que considerei mais relevantes e relativamente recentes e que espero vir a receber, nem que seja pelo menos um... E vocês? Têm algum livrinho que gostariam de receber pelo natal? Contem-me tudo aqui nos comentários! Até à próxima!
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Página-a-página #222
«(...)A maior parte das pessoas não consegue emendar os seus próprios defeitos. As tendências do ser humano, de uma forma geral, consolidam-se antes dos vinte e cinco, e depois disso, por mais que uma pessoa se esforce, dificilmente consegue mudar a sua profunda natureza. O problema vem da maneira como o mundo exterior reage às nossas tendências. Com a ajuda do uisque, dei por mim cada vez mais identificado com Rudin. Com as personagens dos romances de Dostoiévski é raro sentir essa empatia, ao contrário do que acontece com as de Turguéniev. Simpatizo com todas elas. Talvez por terem uma data de defeitos. E nós, os que temos os nossos defeitos, tendemos a identificarmo-nos com aqueles que têm tantos defeitos como nós. Verdade seja dita que os defeitos exemplificados pelas personagens de Dostoiévski, muitas vezes, não se afiguram como defeitos, e por isso sou incapaz de sentir por eles uma empatia total. No caso de Tolstói, já que estou a falar do assunto, os defeitos dos seus heróis revelam-se de tal forma desmensurados e transcedentais que eles tendem a tornar-se monumentos estáticos.»
O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo
Haruki Murakami
sábado, 5 de dezembro de 2015
Página-a-página #221
«Habituado que estou a trabalhar em qualquer lugar, sei do que falo quando digo que nem sempre é fácil encontrar um sofá cómodo onde valha a pena repousar o corpinho quando chega a hora de passar pelas brasas. Os sofás, na sua maioria, são comprados ao acaso, sem qualquer critério, revelando-se, até mesmo no caso dos mais luxuosos, uma autêntica decepção assim que a pessoa decide deitar-se em cima deles. Isto para dizer que poucos são os que valem realmente a pena. Não compreendo como é que, na hora de comprar um sofá, as pessoas podem dar-se ao luxo de ser tão pouco exigentes.
Defendo a teoria -ainda que tal possa não passar de um preconceito da minha parte - de que a escolha de um sofá diz muito acerca do seu proprietário. Um sofá constitui, à sua maneira, um mundo compacto e inviolável. Isso, porém, é uma coisa que só aqueles que cresceram comodamente sentados num bom sofá podem entender. Acontece o mesmo aos que cresceram a ler bons livros ou a ouvir boa música. Funciona assim.»
Defendo a teoria -ainda que tal possa não passar de um preconceito da minha parte - de que a escolha de um sofá diz muito acerca do seu proprietário. Um sofá constitui, à sua maneira, um mundo compacto e inviolável. Isso, porém, é uma coisa que só aqueles que cresceram comodamente sentados num bom sofá podem entender. Acontece o mesmo aos que cresceram a ler bons livros ou a ouvir boa música. Funciona assim.»
O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo
Haruki Murakami
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Dezembro #25
Vagueio hoje por outras terras. O meu corpo percorre o que me é estranho. E eu estou desconfortável. Sou desconforto e só quero pôr um ponto final ao universo. Não gosto do incontrolável, do desconhecido. Não conheço sequer a minha pele, é fria, cheira a estranho. Não sou eu. Todo o espírito, porventura, ter-me-á abandonado? Ao estar aqui já não sei o que sou, se alguma vez o soube. Desejo voltar a contorcer-me sobre o meu corpo e entrar de volta no ventre de minha mãe, até ao infinito, porque impossível será morrer quem se negou ao nascer.
Repudio o sol que brilha lá fora, da luz se renasce dizem uns, e eu discordo pela brancura inoportuna que invade este meu quarto pela frincha da janela deixada irresponsavelmente aberta. Mas eu hoje só quero dormir, o sono impede-me de pensar, e esperar que acorde, de novo, envolta em líquido amniótico.
Alexandra Oliveira Villar
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