«Em certo sentido, era por isso que eu me sentia tão próximo dos meus colegas na aula de Grego. Tal como eu, também eles conheciam esta paisagem maravilhosa e cruciante, há seculos desaparecida; também eles sabiam o que era erguermos os olhos dos nossos livros do século V, e acharmos este mundo estranho desconcertante, como se já não fosse o nosso. Era por isso que eu admirava Julian, e Henry em particular. A sua razão, os seus olhos e ouvidos estavam irremediavelmente fixados nos limites desses ritmos antigos e austeros - de resto, não era no mundo que moravam, pelo menos no mundo como eu o conhecia - e longe de serem visitantes ocasionais desta terra que próprio apenas conhecia como um turista deslumbrado, eles eram, em grande medida, seus residentes permanentes, tão permanentes como lhes era humanamente possível. O grego é uma língua difícil, muito difícil, que se pode estudar uma vida inteira sem jamais se conseguir dizer o que quer que seja; mas ainda hoje não consigo deixar de sorrir ao pensar no inglês formal e calculado de Henry, o inglês de um estrangeiro cultivado, quando comparado com a fluÊncia e determinação do seu grego - eloquente, escorreito, notavelmente espirituoso. Era sempre um assombro ouvi-lo a conversar em grego com Julian, a discutir e a gracejar, como nunca os ouvi a falar em inglês; por diversas vezes, ouvi Henry atender o telefone com um "Alô", cauteloso e impaciente, e nunca me hei-de esquecer do comprazimento áspero e irresistivel do seu "Khairei!" sempre que sucedia estar Julian do outro lado da linha.»
A História secreta
Donna Tartt
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