quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Outubro #23

Recolho-me em mim como se voltasse à casa que me viu nascer. É como sair deste mundo para regressar à vitalidade da própria vida. Voltar a ser o que já fui sem me lembrar de o ter sido. A inocência da ignorância. A força do futuro por ser.
Recolho-me em mim como se voltasse ao calor do ventre da minha mãe. O berço mais profundo da existência. A casa. O mar. Voltar a ser o primórdio da espécie, rasurando os caminhos rectos que percorri, que é em tortuosidade que o mundo cresce.
Recolho-me em mim para voltar a ser a potencialidade do sonho que não se concretizou ainda. É na origem que o sonho ganha raiz e dá razão à existência. Viver é perder a razão. Será sempre o perder do sonho.
Recolho-me em mim como se negasse o presente que me atormenta. Eu sou passado quando sou verdade, mas vivo cada dia num presente inconsistente. O passado é feito de sonho, o presente segura-se no vazio.

Recolher-me-ei sempre em mim enquanto não o souber viver.

Alexandra Oliveira Villar

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