Recolho-me em mim como se voltasse à casa que me viu
nascer. É como sair deste mundo para regressar à vitalidade da própria vida.
Voltar a ser o que já fui sem me lembrar de o ter sido. A inocência da
ignorância. A força do futuro por ser.
Recolho-me em mim como se
voltasse ao calor do ventre da minha mãe. O berço mais profundo da existência.
A casa. O mar. Voltar a ser o primórdio da espécie, rasurando os caminhos
rectos que percorri, que é em tortuosidade que o mundo cresce.
Recolho-me em mim para voltar a ser a potencialidade
do sonho que não se concretizou ainda. É na origem que o sonho ganha raiz e dá
razão à existência. Viver é perder a razão. Será sempre o perder do sonho.
Recolho-me em mim como se negasse o presente que me atormenta. Eu sou passado quando sou verdade, mas vivo cada dia num presente inconsistente. O passado é feito de sonho, o presente segura-se no vazio.
Recolher-me-ei sempre em mim
enquanto não o souber viver.
Alexandra Oliveira Villar
Sem comentários:
Enviar um comentário