terça-feira, 20 de outubro de 2015

Página-a-página #214

«A beleza é o terror. Tudo o que achamos belo faz-nos estremecer. E o que haverá de mais aterrador e de belo, para almas como as gregas e as nossas, do que perder totalmente o controlo? Livrarmo-nos dos grilhões do ser por instantes, estrilhaçarmos o acidente do nosso eu mortal? Eurípides fala-nos das Ménades: cabeça atirada para trás, garganta para as estrelas, "mais cervinas do que humanas". Ser-se completamente livre! Claro que uma pessoa é perfeitamente capaz de libertar estas paixões de maneiras mais vulgares e menos eficientes. Mas quanta glória em libertá-las de uma rajada só! Cantar, gritar, dançarmos descalços na floresta a meio da noite, tão cientes da nossa mortalidade como um animal selvagem! Estes são mistérios poderosos. O mugir dos bois. Fontes de mel brotando do chão. Se formos suficientemente fortes nas nossas almas podemos rasgar o véu e olhar de frente para essa beleza nua e terrível; deixar que Deus nos consuma, nos devore, nos desmembre os ossos. Para nos cuspir renascidos cá para fora.»
A História Secreta
Donna Tartt

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