terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Página-a-página #176


«(...) E a mãe da Rosa foi-se, que é como se tivesse morrido. A morte, meu amigo, é uma curva na estrada, é o lugar mais distante, onde não há correios nem telefone. As pessoas, quando se afastam, ficam como a paisagem, como os arbustos, ou como uma vaca a pastar. A mãe da Rosa apartou-se da nossa visão, da visão e dos olhos de quem a amava. Não é isso morrer? A ausência e a morte dos familiares chegados. Ela foi para Lisboa crescer ou minguar, como faz a lua. Sobre este veredicto só Deus, ou o tempo, fará juízo. Repare o senhor que estar ausente tem, na prática, o mesmo efeito de estar enterrado e bem morto. Não para a própria pessoa, bem entendido, mas para os outros: é uma completa falta de nexo.Esperamos reencontrar essa pessoa, mas esse reencontro em que todos temos esperança é o mesmo sentimento que nós, cristãos, sentimos tendo fé na Ressurreição. Mas se esse reencontro não se der em vida, não é precisamente o mesmo, exactamente o mesmo, que uma ausência?»
Jesus Cristo bebia cerveja
Afonso Cruz

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