domingo, 31 de janeiro de 2016

Document Your Life: January 2016


Olá a todos. Estamos no fim do mês de Janeiro e como tal hoje trago-vos o meu vídeo do projecto Document Your Life do qual já vos falei aqui no blog. Este projecto é uma resolução de ano novo minha e como tal espero que pelo menos consiga gravar os doze vídeos correspondentes a este ano de 2016. E vocês? Não querem também participar? Não é preciso ser um expert na matéria nem fazer vídeos de alta qualidade. Basta divertirem-se a gravar os melhores momentos de cada mês. Fica aqui a sugestão!

sábado, 30 de janeiro de 2016

Página-a-página #232

«-Explique-me, então, a vida, senhor Helveg.
-Um rio, Kevin, está ao mesmo tempo na nascente e na foz. A vida também é assim, mas nós imaginamos que é um barco a descer o rio, um humilde pescador que por vezes tenta remar contra a corrente, mas é impossível vencê-la. Porém, nós somos o rio, que imagem tão gasta, Kevin, mas deve ser isso que somos. Ao mesmo tempo na nascente e na foz, moribundos e nascituros ao mesmo tempo, no útero e enterrados ao mesmo tempo, e no entanto sempre diferentes de nós mesmos, porque a água é sempre outra, a nascente está sempre a mudar, o nosso passado também, o nosso destino também, somos esta imagem tão gasta pelos poetas, pelos cantores, é isso mesmo, Kevin, uma alegoria velha, somos o tal rio, o tal lugar-comum. E agora, se não te importas, deixa-me remar contra a corrente, ainda que seja absolutamente inútil, mas que importa? Muitos dos nossos gestos mais épicos são tentativas infantis e vãs de contrariar o deprimente fado que Deus assobia e que é a nossa vida. Se não te importas, deixa-me remar contra a corrente.»
Flores
Afonso Cruz

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Página-a-página #231

«Talvez haja uma corda pendurada em todos os pescoços, talvez caminhemos sobre vidros partidos, talvez a nossa alma seja uma lâmpada fundida, talvez o futuro seja uma flor deitada num caixão, talvez as nossas ambições sejam programas de televisão coloridos, talvez nos doam as esperanças, talvez nos deitemos todas as noites como o entrecosto nas montras do talho, talvez nos falte a saliva nas palavras, talvez nos caiam os dentes podres para dentro da voz, talvez nos rasguem os ossos como papel, talvez a chuva só exista dentro do nosso corpo, talvez... E, porém, iluminamos o mundo. Existe um caos, uma escuridão, mas o mundo, o mundo só existe quando apontamos uma chama na sua direcção e o incendiamos. »
Flores
Afonso Cruz

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Uma boa história nunca acaba #144


The little Prince (2015). Animação. Fantasia. Uma menina vive com a sua mãe, uma mulher de tal modo obcecada com o futuro da filha que tem tudo delineado para cada hora da vida da criança. Os testes de admissão para um colégio muito conceituado são a grande preocupação do momento e nada, nem ninguém, parece demovê-la dos planos. Para ela, nada pode ser deixado ao acaso. Um certo dia, a rapariga conhece o vizinho da casa do lado, que lhe envia um desenho num pequeno avião de papel. Esse homem, que em tempos fora aviador, conta-lhe histórias das suas viagens e de como conheceu, em pleno deserto, um principezinho louro que lhe disse viver no asteróide B612. Com este novo amigo, a menina vai conhecer uma história de amizade que a mudará para sempre. Baseado no clássico de Antoine de Saint-Exupéry, este filme mantém a sua essência mas acrescenta personagens que, na minha opinião, foram a história ainda mais encantadora. É sem dúvida um filme que aconselho a todos independentemente da idade.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Página-a-página #230

«-Já estou melhor.
Mas não estava, há anos que ficava cada vez pior, a rotina embacia-nos, torna-nos indefinidos, desfocados, fantasmas, máquinas, ao mesmo tempo que nos solidifica em estátuas de sal. A consciência da morte é que nos desperta dessa morte em que vivemos, que nos diz o que deveríamos ter feito, o que deixámos de fazer, a morte é um despertador, um despertador que nos acorda para a inviabilidade dos nossos erros. Trrrrim, trrrrim, morreremos em breve, temos de agir, de resistir. Não desistiremos. A solução seria termos uma caveira na mesinha-de-cabeceira, como fazem os monges cartuxos, para nos servir de despertador e todos os dias sabermos que temos de acordar, não para viver a rotina fatal do quotidiano, mas a vida apaixonada de alguém que ainda sabe que existem nuvens, céu e beijos.»
Flores
Afonso Cruz

sábado, 23 de janeiro de 2016

Página-a-página #229

«Nos últimos tempos, quando sinto os lábios da Clarisse a tocarem os meus, comprovo que não têm história, já não convocam o primeiro beijo que demos. Creio que, numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a história de uma vida, todos os pores-do-sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda a certeza do amor. Mas já não é assim. Agora sabem ás vacinas que tínhamos de dar à cadela (já morreu), às conversas com o director da escola, à loiça por lavar, à lâmpada que falta mudar, às infiltrações no tecto, às reuniões de condóminos. Toco levemente os lábios dela e sabem-me à rotina, às finanças, ao barulho da máquina de lavar roupa. Beijado-nos como quem faz a cama. »
Flores
Afonso Cruz

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

2016 Reading Challenge



Ora aqui está um bom desafio no que diz respeito às leituras. Este é o desafio de 2016 para todos aqueles que querem ler livros e por vezes não sabem que livro escolher. Aqui está uma lista com quarenta propostas de leitura. Claro que não precisamos de ler exatamente um livro de cada categoria; o desafio consiste em ver quantas categorias conseguimos preencher no final do ano. Este desafio foi retirado do blog The Fond Reader pelo que poderá ter sido adaptado do desafio original.  Aqui fica o desafio!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Página-a-página #228

«Os adultos seguem caminhos. As crianças exploram. Os adultos sentem-se satisfeitos por seguir na mesma direção, centenas de vezes, ou até milhares; talvez nunca lhes ocorra a ideia de abandonar o trilho, de rastejar debaixo dos redodendros, de encontrar espaços entre vedações. Eu era uma criança, o que significava que conhecia uma dúzia de formas diferentes de sair da nossa propriedade e de chegar ao caminho, formas que não implicavam passar pelo caminho de entrada da nossa casa. Decidi que sairia do laboratório a rastejar, percorreria o muro que se erguia ao fundo do relvado e passaria as azáleas e os loureiros que emolduravam o jardim da nossa zona. Dos loureiros deslizaria pela encosta até chegar à vedação ferrugenta que percorria o caminho.»
O oceano no fim do caminho 
Neil Gaiman

domingo, 17 de janeiro de 2016

Uma boa história nunca acaba #143


Joy (2015). Drama. Criativa e decidida, Joy esforça-se por conciliar a difícil vida de mãe solteira com a de inventora. Um dia descobre algo inovador que lhe abre as portas para o sucesso. Porém, ao mesmo tempo que ganha notoriedade e se transforma numa das mais bem-sucedidas empresárias dos EUA, vê-se obrigada a enfrentar a traição, a falsidade e a falta de generosidade dos que lhe são próximos. Mas também percebe que existe sempre alguém que, sejam quais forem as circunstâncias, nunca deixará de estar do seu lado… Com assinatura de David O. Russell, uma comédia dramática sobre como conduzir uma empresa familiar no implacável mundo dos negócios. O argumento baseia-se na verdadeira história de Joy Mangano, a mulher que se tornou milionária ao inventar a esfregona. Pessoalmente quando vi o trailer do filme fiquei curiosa com a história e achei que daria um grande filme. No entanto, e apesar da nomeação para os óscares, não gostei particularmente da forma como o filme foi construído e não achei que tivesse valido a pena te-lo ido ver ao cinema. No entanto é sempre um facto curioso saber a história por detrás de qualquer invenção e por isso acho que não devem deixar de ver mas, de preferência, em casa. Fica a dica!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Página-a-página #227

«A nossa existência inicia-se numa única célula, mais pequena do que um grão de pó. Muito mais pequena. Dividir. Multiplicar. Somar e subtrair. A matéria muda de mãos, os átomos afluem e apertam-se em torrentes, moléculas giram em torno de um ponto central, proteínas unem-se, as mitocôndrias expelem os seus ditames oxidativos; começamos a existir sob a forma de um microscópico enxame eléctrico. Os pulmões o cérebro o coração. Quarenta semanas depois, seis triliões de células são esmagados no torno do canal de nascimento da nossa mãe e gritamos. Depois deparamos com o mundo.
(...)»
Toda a luz que não podemos ver
Anthony Doerr

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Divulgando #37


A Worten em parceria com o Instituto Português de Fotografia (IPF) promove a atividade formativa “Worten Photo Challenge”. O desafio lançado pelas duas entidades pretende disponibilizar ao público em geral, de forma gratuita, linhas de conhecimento nas diversas vertentes da fotografia. Procurando responder às necessidades básicas de quem deseja melhorar a qualidade visual e técnica das suas fotografias, a Worten em parceria com o IPF disponibiliza de forma gratuita diferentes ações de formação, cada uma com especificidades muito próprias. Os participantes podem usufruir de três atividades distintas durante um dia inteiramente dedicado à fotografia: Fotografia de Rua, Fotografia de Arquitetura e Fotografia macro em ambiente de estúdio. A actividade vai ocorrer dia 16 de Janeiro no Porto e dia 23 em Lisboa. Para mais informações aqui fica o link:

sábado, 9 de janeiro de 2016

TOP 3: Filmes que estreiam em Janeiro


The 5th Wave. Estreia no dia 14 de Janeiro em Portugal.
Chloe Grace Moretz será uma sobrevivente num mundo onde a Humanidade está em vias de se extinguir. Baseado num livro de Rick Yancey, The 5th Wave remete-nos para uma invasão alienígena que, para apoderar-se do nosso planeta, terá que extermina-nos utilizando ondas de ataque. Cassie Sulivan sobreviveu a quatro dessas ondas, porém, a ameaça de uma quinta coloca-a na pista do seu desaparecido irmão.

Brooklyn. Estreia prevista também para dia 14 de Janeiro.
Brooklyn conta-nos a profundamente emocionante história de Eilis Lacey, uma jovem imigrante irlandesa que atraída pela promessa do sonho americano, troca a Irlanda e o conforto da casa da sua mãe, pelos bairros de Brooklyn de 1950. As iniciais saudades que a mantinham acorrentada diminuem com o surgimento de um novo romance, que impele Eilis para o encanto inebriante do amor. Mas rapidamente a sua nova vivacidade é interrompida pelo seu passado, e Eilis tem de escolher entre dois países e as vidas que cada um oferece.


Anomalisa. Estreia prevista para dia 21 de Janeiro em Portugal.
Michael Stone, marido, pai, e respeitado autor, é um homem magoado com a mundanidade da sua vida. Numa viagem de negócios a Cincinnati, onde irá falar numa convenção de profissionais de apoio ao cliente, fica fascinado com a possibilidade de escapar ao desespero através de uma modesta vendedora, Lisa, que pode ou não ser o amor da sua vida.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Página-a-página #226

«Ela deixa-o lavar-lhe o cabelo. Uma e outra vez, Marie-Laure acumula espuma nas mãos, como que a tentar calcular-lhe o peso. Sempre existiu nele um resquício de pânico, bem no fundo de si, em relação à filha: o medo de não ser bom pai, de estar a fazer tudo mal. De nunca ter compreendido verdadeiramente as regras. Todas aquelas mães parisienses empurrando os carrinhos de bebé através do Jardim des Plantes ou apreciando casaquinhos de malha nas lojas de vestuário - parecia-lhe que aquelas mulheres trocavam acenos de cabeça quando se cruzavam, como se cada uma delas fosse detentora de um qualquer conhecimento secreto que ele não possuía. Como saber com toda a certeza que se está a fazer a coisa acertada?
No entanto também existe uma sensação de orgulho - orgulho por ter feito tudo sozinho. Por a filha ser tão curiosa, tão resiliente. A humildade de ser pai de alguém de tamanho portento, como se ele não fosse mais do que um estreito canal para uma outra coisa maior. É isso que sente agora, pensa, ajoelhado ao lado dela, enxaguando-lhe o cabelo: como se o amor pela filha lhe ultrapassasse os limites do corpo. A muralha podia ruir, até mesmo toda a cidade, mas a luminosidade daquele sentimento não desvaneceria.»
Toda a luz que não podemos ver
Anthony Doerr

domingo, 3 de janeiro de 2016

Uma boa história nunca acaba #142


Os gatos não têm vertigens (2014). Drama. Comédia. Apesar dos seus 18 anos, Jó é já um rapaz desencantado com a vida. Proveniente de uma família disfuncional, criado com pouco afecto e compreensão, acabou por se deixar influenciar pelas piores companhias do bairro. Rosa, com 73 anos, é uma mulher frágil e bondosa que se debate com a incapacidade de lidar com o recente falecimento de Joaquim, com quem partilhou quase toda a existência. Quando, depois de uma discussão particularmente violenta, Jó é expulso de casa pelo pai, refugia-se no terraço de Rosa, onde decide passar a noite. Na manhã seguinte, a velha senhora descobre o rapaz e decide acolhê-lo em sua casa. Entre os dois nasce uma enorme cumplicidade que, apesar de incompreendida por todos, se torna a cada dia mais forte e verdadeira… Com realização de António-Pedro Vasconcelos, uma história incomum sobre o amor e a amizade entre dois seres que, contra todas as probabilidades, se completam nas suas diferenças. Este não é um filme que agradará a toda a gente mas certamente que trás consigo uma mensagem muito forte sobre a dura realidade de algumas pessoas de hoje-em-dia. Este blog recomenda!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Um desafio por mês #38


Janeiro #26

Existem dois vazios nas almas. E um imenso abismo entre eles. Um é quente; o outro gélido, petrificante, vazio absoluto. Um vem nos filmes; o outro não cabe neles.

Vazio que transborda de plenitude de silêncio, conforto, sonho. Este, vi-o no fim de semana enquanto entretinha a vida nas pausas do viver. Vi-o sentada no sofá de casa ao mesmo tempo que ele acontecia no extremo oposto do globo. Vi-o e deu-me alegria. Foi o atingir do cume mais alto onde reinava silêncio, plenitude, comunhão de elementos. Entra na alma quando se enche o peito de brisas não citadinas. Era o vazio, aquele que aquecia o coração.

No fim da tarde, veio o vazio absoluto. O Outono. O dia em que a andorinha partiu rumo a sul, deixando o beiral gelado, triste, abandonado. O ninho vazio. Nesta viagem sem retorno, levou consigo a razão. Restou a dúvida, a solidão. O centro do mundo caiu naquele coração, instalou-se e aconchegou-se para intensificar o frio. A andorinha continua rumo a sul, a sua bússola já só tem uma direcção, e o centro do mundo ficou cá. Era o vazio, aquele que doía no coração.
Alexandra Oliveira Villar