segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Página-a-página #167


«(...)Mas todos têm recordações; o que ela amava era aquilo, o aqui, o agora, à sua frente; a senhora gorda dentro de um automóvel. Seria assim tão importante, perguntava-se ao dirigir-se a Bond Street, seria importante que também ela tivesse inevitavelmente de desaparecer; que aquilo continuasse sem ela; ressentia-se disso; ou era de certo modo um consolo saber que a morte acabava com tudo? Mas que, sob alguma forma, nas ruas de Londres, sob o fluir e refluir das coisas, aqui, ali, ela sobrevivia, Peter sobrevivia, viviam um no outro, fazendo ela parte, tinha a certeza disso, das árvores da casa; daquela casa, tão feia, que mesmo à sua frente caía aos pedaços;fazendo parte de pessoas que nunca conhecera; entendendo-se sobre uma névoa entre as pessoas que melhor conhecia, que a ergueriam nos seus ramos como ela vira as árvores erguer a névoa, mas continuaria a estender-se até tão longe, a espalhar a sua vida, a espalhar-se a si mesma.»

Mrs. Dalloway
Virgina Woolf

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