segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Dezembro #13

                Meu amor, estas palavras não são uma carta. São um pensamento, e são só minhas. São a minha entrega, em morte, a ti. Porque em morte valho mais que em vida.

            Vivo nesta cidade igual a mim. Observa. Hoje ela é corrompida nas entranhas por uma ventania fria do norte. O vento é-lhe estranho e desconfortável. Ela estremece. A vontade cede. As ruas despiram-se e somem-se em direcção ao rio que hoje é mar de morte revolta. Ele fá-la recolher-se ao abrigo de sempre, à zona de conforto. Deixou de repente de viver. As fachadas pombalinas são agora sepulturas de almas geladas. Vagueio e nada vejo a não ser o vento que matou as pessoas friamente. A cidade morreu. Também eu me recolho em mim. Digo, recolho-me na minha tristeza. E talvez também vá morrer.

            Um dia, ao percorrerem as minhas veias, elas serão tão nuas como as ruas da minha cidade. Serei tão morta como ela. O resto são as palavras que depois voarão em papéis ao sabor da ventania fria do norte escritas por uma qualquer vagabunda sentada a uma janela estupidamente aberta à tempestade.

Alexandra Oliveira Villar

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