Meu
amor, estas palavras não são uma carta. São um pensamento, e são só minhas. São
a minha entrega, em morte, a ti. Porque em morte valho mais que em vida.
Vivo nesta cidade igual a mim.
Observa. Hoje ela é corrompida nas entranhas por uma ventania fria do norte. O
vento é-lhe estranho e desconfortável. Ela estremece. A vontade cede. As ruas
despiram-se e somem-se em direcção ao rio que hoje é mar de morte revolta. Ele
fá-la recolher-se ao abrigo de sempre, à zona de conforto. Deixou de repente de
viver. As fachadas pombalinas são agora sepulturas de almas geladas. Vagueio e
nada vejo a não ser o vento que matou as pessoas friamente. A cidade morreu.
Também eu me recolho em mim. Digo, recolho-me na minha tristeza. E talvez
também vá morrer.
Um dia, ao percorrerem as minhas
veias, elas serão tão nuas como as ruas da minha cidade. Serei tão morta como
ela. O resto são as palavras que depois voarão em papéis ao sabor da ventania fria
do norte escritas por uma qualquer vagabunda sentada a uma janela estupidamente
aberta à tempestade.
Alexandra Oliveira Villar
Sem comentários:
Enviar um comentário