terça-feira, 29 de abril de 2014

Página-a-página #122


«-Não sei o que é um louco - sussurrou Veronika. - Mas eu não sou. Sou uma suicida frustrada.
-Louco é quem vive no seu próprio mundo. Como os esquizofrénicos, os psicopatas, os maníacos. Ou seja, pessoas que são diferentes das outras.
-Como tu?
-No entanto - continuou Zedka, fingindo não ter ouvido o comentário - já deves ter ouvido falar de Einstein, que dizia que não havia tempo nem espaço, mas uma união dos dois. Ou Colombo, que insistia que do outro lado do mar não estava um abismo, e sim um continente. Ou de Edmond Hillary, que garantia que um homem podia chegar ao topo do Evereste. Ou dos Beatles, que fizeram uma música diferente e se vestiram como pessoas totalmente fora da sua época. Todas estas pessoas - e milhares de outras, também viviam no seu mundo.»
Veronika decide morrer
Paulo Coelho

Página-a-página #121


«Aos 24 anos, depois de ter vivido tudo o que lhe fora permitido viver - e olha que não foi pouca coisa! - Veronika tinha quase a certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio: liberdade, enfim. Esquecimento para sempre. 
No fundo do seu coração, porém, restava a dúvida: e se Deus existe? Milhares de anos de civilização faziam do suicídio um tabu, uma afronta a todos os códigos religiosos: o homem luta para sobreviver, e não para entregar-se. A raça humana deve procriar. A sociedade precisa de mão-de-obra. Um casal necessita de uma razão para continuar junto, mesmo depois do amor deixar de existir, e um país precisa de soldados, políticos e artistas.
"Se Deus existe, o que eu sinceramente não acredito, entenderá que há um limite para a compreensão humana. Foi Ele quem criou esta confusão, onde há miséria, injustiça, ganância, solidão. A sua intenção deve ter sido óptima, mas os resultados são nulos; se Deus existe, Ele será generoso para com as criaturas da Terra, e pode até mesmo pedir desculpas por nos ter obrigado a passar por aqui." »
Veronika decide morrer
Paulo Coelho

Página-a-página #120

«Acreditava ser uma pessoa absolutamente normal. A sua decisão de morrer devia-se apenas a duas razões muito simples, e tinha a certeza de que, se deixasse um bilhete a explicá-las, muita gente ia concordar com ela.
A primeira razão: tudo na sua vida era igual, e, -uma vez passada a juventude - seria decadência, a velhice começaria a deixar marcas irreversíveis, as doenças chegariam, os amigos partiriam. Enfim, continuar a viver não acrescentava nada; pelo contrário, as possibilidades de sofrimento aumentavam muito.
A segunda razão era mais filosófica: Veronika lia jornais, via televisão, e estava a par do que se passava no mundo. Tudo estava errado, e ela não tinha como reparar a situação - o que lhe dava uma sensação de inutilidade total.»
Veronika decide morrer
Paulo Coelho

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Página-a-página #119


«"Que vais fazer com a tua vida?" De uma maneira ou de outra, parecia que as pessoas tinham andado eternamente a perguntar-lhes isto; professores, pais, amigos às três da manhã, mas a pergunta jamais parecera tão premente como agora, e contudo, ela não estava mais perto de encontrar uma resposta. O futuro erguia-se diante dela, uma sucessão de dias vazios, cada manhã mais intimidante e incógnita do que a manhã anterior. Como haveria ela alguma vez de as preencher a todas?»
Um dia
David Nicholls

Página-a-página #118


«Ás vezes perguntava-se o que é que o seu eu de vinte e dois anos pensaria de Emma Mayhew de hoje. Considerá-la-ia egocêntrica? Conformista? Uma burguesa vendida, com esta gana de possuir uma casa e de viagens ao estrangeiro e roupas de Paris e cortes de cabelo caros? Achá-la-ia convencional, com o seu novo sobrenome e esperança de ter uma família? (...)
Não, isto, Emma sentia-o era a vida real e se não era tão curiosa ou apaixonada como fora outrora, era apenas por  ser inevitável. Aos trinta e oito anos seria desapropriado, indigno, conduzir amizades ou amores com o ardor e a intensidade de alguém de vinte e dois. Apaixonar-se assim? Escrever poesia, chorar com canções pop? Arrastar pessoas para dentro de cabines de fotografia, passar um dia inteiro a fazer uma cassete de compilação, perguntar às pessoas se queriam ficar na nossa cama, só para fazer companhia? Se citasse Bob Dylan ou T.S.Eliot, ou, Deus nos livre, Brecht a alguém nos dias de hoje, sorrir-lhe-iam educadamente e afastar-se-iam em silêncio, e quem os poderia censurar? Ridículo, aos trinta e oito, esperar que uma canção ou um livro ou um filme nos mudasse a vida. Não, tudo se nivelara e assentara e a vida era vivida sobre um pano de fundo geral de conforto, satisfação e familiaridade. Não haveria mais daqueles altos e baixos de arrasar os nervos. Os amigos que tinha agora seriam os amigos que teriam dentro de cinco, dez, vinte anos. Não esperavam tornar-se dramaticamente ricos nem pobres; esperavam manter-se com saúde ainda durante muito tempo. Estavam a meio; na classe média, na meia idade; eram felizes no sentido em que ainda não tinham deixado de o ser.»
Um dia
David Nicholls

domingo, 27 de abril de 2014



«Ela anotou filosoficamente as datas à medida que iam passando na rotação do ano;... o seu aniversário; e um ou outro dia individualizados por incidentes nos quais participara. Subitamente, ocorreu-lhe uma tarde, enquanto contemplava a sua beleza ao espelho, que para ela havia ainda outra data de maior importância que aquelas; a da sua morte, quando todos estes encantos tivessem desaparecido; um dia que se escondia manhoso e dissimulado entre todos os outros dias do ano, não dando sinal ou som quando ela passava por cima dele anualmente; mas decerto não menos ali presente. Quando era?»


Tess of the d'Urbervilles
Thomas Hardy

sábado, 26 de abril de 2014


http://www.zeitgeistmovingforward.com/

Zeitgeist: Moving Forward é uma longa-metragem em forma de documentário que visa a defesa da necessidade de uma transição para sair do actual paradigma sócio-económico monetário que rege as sociedades do mundo inteiro. Este trabalho vai além do relativismo cultural e da ideologia tradicional e aborda os atributos empiricamente basilares da sobrevivência humana e social, extrapolando as leis naturais imutáveis para um novo paradigma de sustentabilidade social designado "Economia Baseada em Recursos". O filme conta com especialistas nas áreas da saúde pública, antropologia, neurobiologia, economia, energia, tecnologia, ciências sociais e outros assuntos relevantes que dizem respeito à cultura e ao funcionamento social. Os três temas centrais deste trabalho são Comportamento Humano, Economia Monetária e Ciências Aplicadas. Resumidamente, este trabalho cria um modelo de compreensão do actual paradigma social e do motivo pelo qual é fundamental sair do mesmo - juntamente com uma nova abordagem social, que apesar de radical, é ainda assim, prática. Abordagem esta que é baseada em conhecimento avançado e resolveria os actuais problemas sociais que afligem o mundo.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Página-a-página #117


«Emma come mais uma batata frita gourmet. Que aconteceu aos amigos dela? Costumavam ser divertidos e gostavam de se divertir, eram sociáveis e interessantes, mas tem passado demasiados serões assim, com casais macilentos, irritáveis e de olhos encovados em divisões mal-cheirosas, a mostrar-se admirada por o bebé estar a ficar maior com o passar do tempo, em vez de mais pequeno. Está cansada de guinchar encantada quando vê um bebé gatinhar, como se fosse uma evolução completamente inesperada, este 'gatinhar'. Que esperavam eles, que voasse? É indiferente ao cheiro da cabeça de um bebé. Uma vez experimentou, e cheirava à parte de dentro da pulseira de um relógio.»
Um dia 
David Nicholls

Isto é Matemática #40



O problema do caixeiro viajante

terça-feira, 22 de abril de 2014


«Às vezes tem-se a noção de que os nossos grandes momentos estão a acontecer, e outras vezes, eles emergem do passado. Talvez seja a mesma coisa com as pessoas.»

Burning the Days
James Salter

Divulgando #13


Em Lisboa, uma velha cabine telefónica é a nova biblioteca comunitária.
O objectivo passa por promover a leitura e os laços comunitários através do reaproveitamento de uma velha cabine telefónica como minibiblioteca self-service na Praça de Londres, em Lisboa. A iniciativa parte dos comerciantes e da Portugal Telecom, começando no dia 23 de Abril, Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Quer participar? Vá à cabine, tire o livro que quer, escreva o nome num papel e deixe lá outro em substituição do que levou. É um sistema informal que não se baseia em prazos e multas, assente na confiança.

http://fugas.publico.pt/Noticias/333066_em-lisboa-uma-velha-cabine-telefonica-e-a-nova-biblioteca-comunitaria

Uma boa história nunca acaba #81


The internship (2013). Comédia. Billy e Nick são dois vendedores cujas carreiras foram devastadas pela era digital. Na tentativa de provar que não estão obsoletos, contra todas as espectativas eles conseguem um cobiçado estágio na Google, juntamente com um batalhão de pequenos génios. No entanto, alcançar esta utopia é apenas metade do desafio. Agora têm de competir com a elite nacional de talentos da tecnologia para provarem que a carência é a principal fonte da reinvenção. Divertido, engraçado, inteligente, um filme que valoriza o ser humano, a amizade, a sociologia e a argumentação. Um filme muito bom!



domingo, 20 de abril de 2014


«Gastávamos tanto dinheiro quando éramos capazes e por ele recebíamos tão pouco quanto as pessoas decidiam dar. Éramos quase sempre mais ou menos infelizes, e a maioria dos nossos conhecidos encontrava-se nas mesmas circunstâncias. Havia entre nós o alegre engano de que nos divertíamos constantemente, e uma secreta verdade de que nunca assim era. Tanto quanto sei, o nosso caso era, neste último aspecto, bastante comum.»

Grandes esperanças
Charles Dickens

sábado, 19 de abril de 2014

Página-a-página #116


«Bom. Aqui a tens. Acho que tens medo de ser feliz, Emma. Acho que tu achas a progressão natural das coisas é a tua vida ser austera e cinzenta e sombria e tu odiares o teu trabalho, odiares o sítio onde vives, não teres sucesso nem dinheiro, nem, Deus proíba, um namorado. Na verdade, irei ainda mais longe e direi que acho que, de facto, sentes prazer na desilusão e no insucesso, porque é mais fácil, não é? O fracasso e a infelicidade são mais fáceis porque servem para contares como anedota. Estás a ficar irritada com isto? Aposto que sim. Pois bem, estou apenas a começar.
  Em, odeio pensar que estarás sentada nesse apartamento horrível com cheiros e barulhos esquesitos e lâmpadas nuas no tecto, ou sentada nessa lavandaria, e por sinal, nos dias que correm, não há qualquer razão para ires lavar a roupa a uma lavandaria self-service, as lavandarias self-service não são fixes nem políticas, são apenas deprimentes. Não sei, Em, tu és jovem, és praticamente um génio, e no entanto, a tua ideia de passar um bom bocado é mimares-te com uma lavagem automática. Pois eu acho que mereces mais. És esperta e divertida e bondosa (demasiado bondosa, na minha opinião) e de longe a pessoa mais esperta que conheço. (...) És deslumbrante, minha bruxa velha, e se eu te pudesse oferecer uma única coisa para o resto da tua vida, seria isto: Confiança. Seria a dádiva da confiança. Ou isso, ou uma vela perfumada.
  (...)Pelas tuas cartas e por te ter visto depois da tua peça, sei que, de momento, te sentes um bocadinho perdida em relação ao que fazeres com a tua vida, um bocado sem remos, nem leme, nem rumo, mas quanto a isso, tudo ok, tudo bem, porque é assim que deve ser quando se tem vinte e quatro anos. De facto, toda a nossa geração é assim. Li um artigo sobre isso, é porque nunca combatemos em guerra nenhuma ou por termos visto demasiada televisão, ou coisa assim. Seja como for, as únicas pessoas com remos e lemes e rumos são uns chatarrões cinzentos e uns quadrados e obcecados pelas carreiras...»

Um dia 
David Nicholls

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Página-a-página #115



«-Temos somente a totalidade das nossas vidas pela frente -  disse ela, sonolenta, inspirando o maravilhoso cheiro morno e rançoso dele e, ao mesmo tempo, sentindo uma ondulação de ansiedade percorrer-lhe os ombros, ante aquela perspectiva: a vida adulta e independente. Não se sentia adulta. Não estava de modo algum preparada. Era como se um alarme de incêndio tivesse disparado a meio da noite e ela estivesse no meio da rua, com uma trouxa de roupa na mão. Se não estudava, então, fazia o quê? Como havia de preencher os dias? Não fazia ideia.
O segredo, disse para consigo, é ser corajosa e arrojada e fazer alguma diferença. Não era exactamente mudar o mundo, só aquela parte à sua volta. Sair para o mundo com o teu Muito Bom com Distinção em duas áreas, a tua paixão e a tua nova máquina de escrever eléctrica Smith Corona, e trabalhar no duro em... qualquer coisa. Mudar vidas por meio da arte, talvez. Escrever coisas belas. Estimar os amigos, manter-se fiel aos seus princípios, viver apaixonada e plenamente e bem. Experimentar coisas novas. Amar e ser amada, se tal coisa for sequer possível. Alimentares-te como deve ser. Coisas assim.»
Um dia
David Nicholls

O que faz um herói?

quarta-feira, 16 de abril de 2014



«Foi para mim um dia memorável, pois exerceu sobre mim grandes mudanças. Mas o mesmo sucede em qualquer vida. Imagine eliminar-lhe um determinado dia e pense no quão diferente o seu curso teria sido. Detenha-se, você que lê isto, e pense por um longo momento nas longas cadeias de ferro ou ouro, de espinhos ou flores, que jamais o teriam aprisionado, não fosse a formação do seu primeiro elo nesse dia memorável.» 


Grandes Esperanças
Charles Dickens

domingo, 13 de abril de 2014

Uma boa história nunca acaba #80


-Love wins. Love always wins.

Tuesdays with Morrie (1999). Biografia. Drama.  Inspirado no livro de Mitch Albom, este filme traz-nos a história de Mitch e de como a sua vida foi influenciada pelo seu professor Morrie. Como o próprio nome indica, o filme relata as terças-feiras em que os dois se encontravam para falar de variadíssimos temas como o amor, a felicidade, a morte, o casamento, enfim, um pouco de tudo aquilo a que chamamos de 'grandes questões que dão sentido à vida'. Penso que o filme nos leva também a reflectir um pouquinho sobre estas questões e se damos o devido tempo e importância a assuntos tão banais mas de extrema importância como a família, o amor, o carinho pelo outro, etc. É um filme que este blog aconselha, mesmo!

http://mitchalbom.com/d/

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Divulgando #12


http://www.galaxyzoo.org/?lang=pt
http://blog.galaxyzoo.org/

Um site que permite a todos os utilizadores classificar galáxias. Claro que é necessário que haja um treino prévio mas qualquer um que preencha os requisitos está apto a fazê-lo. Alem disso o site dispões de uma vasta gama de imagens tiradas pelos mais prestigiados telescópios como por exemplo o Hubble. Este site só este ano é que foi traduzido para Portugal pelo que é bastante recente.


Divulgando #11


http://www.lifeinabag.pt/
O projeto Life in a bag pretende inspirar e incentivar as pessoas a cultivar os seus próprios alimentos em espaços reduzidos e com materiais reutilizáveis. A ideia é que as pessoas possam surpreender com um presente, Vivo, Ecológico e Original!


terça-feira, 8 de abril de 2014

Isto é Matemática #39



Profissão matemático (parte 1 e 2)

Uma boa história nunca acaba #79


-Are you watching closely?

The Prestige (2006). Drama. Mistério. Thriller. Do aclamado realizador Christopher Nolan este filme é um thriller tecido com o material de que se fazem as ilusões. É todo ele um filme de luxo, desde o realizador até aos actores. A história desenrola-se em Londres, na época vertiginosa da viragem do século. Numa altura em que os mágicos são verdadeiros ídolos, dois jovens mágicos começam a desbravar o seu caminho para a fama. Robert Angier (Hugh Jackman) é sofisticado, tem o dom do espectáculo, ao passo que Alfred Borden (Christian Bale), menos elaborado, é o génio criador a quem falta o glamour na apresentação dos seus truques de magia. Começam por ser admiradores e colaboradores mútuos, mas quando o seu principal truque corre mal, tornam-se inimigos mortais, tendo cada um deles por único desejo o fim do outro. A sua terrível concorrência vai-se tornando mais feroz truque após truque, espectáculo após espectáculo, até deixar de ter qualquer tipo de limites. Num momento em que o equilíbrio das vidas de todos os que os rodeiam é cada vez mais ténue, chegam a recorrer aos novos poderes do brilhante cientista Nikola Tesla. Por entre choques e revelações, o filme mostra um mundo fascinante, onde são postos em causa os limites mais obscuros da fé, da confiança e do possível. Apesar de achar que o final já era previsto, penso que não poderia acabar de maneira melhor... Recomenda-se!!!



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Divulgando #10


http://www.myappylist.com/
APPY, é a aplicação mobile da felicidade, e permite-te criar uma lista de tudo o que te faz realmente feliz. A felicidade é um dos motes da Jason Associates, e com esta iniciativa a consultora pretende ajudar cada indivíduo a investir no planeamento do seu bem-estar através da criação de uma lista de acções – a sua lista da felicidade.

sábado, 5 de abril de 2014



«Para que servem os dias?
É nos dias que vivemos.
Chegam, acordam-nos,
Vezes e mais vezes.
São para sermos felizes neles:
Onde havemos de viver senão nos dias?


Ah, responder a essa pergunta
Faz com que o médico e o padre,
De bata e batina comprida,
Atravessem, apressados, os campos.»


Philip Larkin,
Os dias

Questões para as quais não sabemos a resposta


Stay curious!

Divulgando #9


scaleofuniverse.com
Site interactivo onde, com um simples arrastar de cursor, se pode ver todo ou quase todo o Universo em escalas que vão desde os neutrinos e fotões até às galáxias e enxames de galáxias que estão no limite do Universo visível. Aqui podemos ver o quão pequena é uma formiga em comparação com um dinossauro e o quão um dinossauro é pequeno quando comparado com o planeta Terra e por assim em diante...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Página-a-página #114


«Assim, Mme. de Stael e Goethe chamavam "música em pedra" à arquitectura. Vitrúvio pensava que um arquitecto devia ser músico. "Uma igreja gótica", disse Coleridge, "é uma religião petrificada". Miguel Ângelo pretendia que o conhecimento da anatomia é essencial para um arquitecto. Nas oratórias de Haydn, as notas oferecem à imaginação não só movimentos como os da cobra, os do veado e os do elefante, mas também cores, como o verde da erva. A lei da harmonia dos sons reaparece na harmonia das cores. Nas suas leis, o granito varia apenas consoante  maior ou menor quantidade de calor existente no rio que o desgasta. O rio, ao correr, assemelha-se ao ar que circula acima dele, e este à luz que o percorre através de correntes mais subtis; a luz assemelha-se ao calor que atravessa o Espaço. Cada criatura é apenas a modificação de outra;»


A disciplina
A Natureza, a Confiança em Si e outros ensaios
Ralph Waldo Emerson

O Nosso Universo

Página-a-página #113


«Dado o significado da natureza, chegamos imediatamente a um facto novo: a Natureza é uma disciplina. Este uso do mundo inclui os usos precedentes como outras tantas partes integrantes de si mesmo.
O espaço, o tempo, a sociedade, o trabalho, o clima, a alimentação, a locomoção, os animais, as forças mecânicas dão-nos, diariamente, as mais sinceras lições, cujo significado é ilimitado. Educam tanto o Entendimento como a Razão. Cada propriedade da matéria é uma escola para o entendimento - quer se trate da sua solidez ou da sua resistência, da sua inércia, da sua extensão, da sua forma ou da sua divisibilidade. O entendimento acrescenta, divide, combina, mede e, nesse digno palco, encontra lugar a subsistência para a sua actividade. Entretanto, a Razão transfere todas essas lições para o seu próprio mundo de pensamento, apreendendo a analogia que une Matéria e Espírito.»

A Disciplina
A Confiança em Si, a Natureza e outros ensaios
Ralph Waldo Emerson

terça-feira, 1 de abril de 2014

Um desafio por mês #17


Abril #5

Oh tempo, vou por aqui delirando em pensamentos bastardos nesta noite em que temo o barulho silencioso do país. Fazes-me ter saudades do futuro que não vou ter oportunidade de viver. E no entretanto da minha existência vou-me dando à vida de forma mais absoluta. Vejo-me embrulhada neste breu entoando canções de revolução no tempo da espera do despertar e tenho pena de mim própria nesta cena. Para consolação, inundo os meus ouvidos de fado que não pertence a um Estado decadente. Olho pela janela o azul negrume escuro onde reina a maior das calmarias das noites. O escuro lá fora abafa qualquer palavra dita isoladamente nestas terras.


É hora de pegar nas armas e disparar palavras à cabeça. E um pouco de coragem ao coração. Atirar asas de gaivotas para os braços e dar ao homem a capacidade de pensamento voador. Está na altura de fazer do bicho, Homem. Talvez nesse amanhecer possamos ser todos mais felizes. Livres. Seria bom ver raiar a esperança nas serras iluminando estas terras ocidentais. A canção já passou na rádio, mas ninguém saiu à rua…

Alexandra Oliveira Villar