sábado, 28 de maio de 2016

Página-a-página #158

«Cada vez mais, o mundo parece destinado a deprimir-nos. A felicidade não é benéfica para a economia. Se estivéssemos felizes com o que temos, por que razão precisaríamos de algo mais? Como é que se venderia um creme anti-rugas, se ninguém se preocupasse com o facto de envelhecer? Como é que se convence alguém a votar num partido político? Fazendo com que se fique preocupada em relação à imigração. Como é que a levamos a fazer um seguro? Fazendo com que fique preocupada com tudo o que pode acontecer. Como é que a convencemos a fazer uma cirurgia plástica? Salientando os defeitos físicos dela. Como é que a levamos a assistir uma série televisiva? Fazendo com que pense que é absolutamente imperdível e que toda a gente a vê. Como é que se convence alguém a comprar um novo smartphone? Fazendo com que ache que o seu telemóvel já está obsoleto. 
Ser uma pessoa serena, satisfeita com a nossa existência, sem necessidade de estar constantemente a "melhorá-la", tornou-se uma espécie de acto revolucionário. Não é nada bom para a economia se nos sentirmos confortáveis com a grande confusão humana que somos.
Porém, não temos outro mundo onde viver. Mas basta analisar tudo com mais atenção para percebermos que o mundo da publicidade e dos objectos não representa a vida real. A vida é feita de outras coisas. A vida é o que resta depois de afastarmos toda essa porcaria ou, pelo menos, quando conseguimos ignora-la durante algum tempo.
A vida são as pessoas que nos amam. Ninguém vai escolher ficar vivo por causa de um iPhone. O que interessa são as pessoas que contactamos através do iPhone. 
E quando iniciamos a recuperação, quando começamos a viver outra vez, fazemo-lo com uma nova perspectiva. Tudo se torna mais claro. Ganha-se consciência de coisas de que não nos apercebíamos antes.»
Razões para viver
Matt Haig

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