sexta-feira, 13 de maio de 2016

Página-a-página #155

«tocou à campainha duas vezes
-dom Paulo, sou eu
-eu quem?
-o Carteiro. toco sempre duas vezes, ainda não tinha reparado?
PauloPausado, de rosto ensonado, toalha na cintura e cabelos húmidos, convidou-o a entrar
o Carteiro adorava entrar naquele apartamento com cheiros de intensos, algumas até com um conjunto deles ainda aceso a fazer desenhos na manhã como fumos esguios a imitar bailarinas orientais
-dom Paulo, isso é só de cheiro ou ainda tem assim uns feitiços internacionais?
-só de cheiro, dom Carteiro, o feitiço é coisa de cada um
-como assim?
-o feitiço é a crença de cada um. se você acreditar que o incenso tem feitiço, pode ser que tenha
-só assim? tipo de inventar mesmo?
-ya, tipo de inventar, como a vida. você quer ver, acaba por acontecer
-ah, mas não é bem assim, dom Paulo, eu ando a querer ver e até ando a querer uma mota, e ainda não apareceu
-tudo demora
(...)»
Os transparentes
Ondjaki

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