«PALAVRAS NUM SILÊNCIO DE OURO. Quando leio o jornal, ouço rádio ou presto atenção ao que as pessoas me dizem no café sinto, cada vez com mais frequencia, tédio, para não dizer uma náusea, perante sempre o mesmo chorrilho de palavras iguais, escritas e ditas- sempre as mesmas expressões retóricas, sempre os mesmos floreados e metáforas. E o pior é quando me escuto a mim próprio e tenho de constactar que também eu me limito a alinhar sempre pelos mesmos padrões, Como estas palavras estão gastas e usadas, tão esgotadas pela excessiva utilização! Será que haverá ainda nelas o vestígio de um significado residual? É claro, a troca de palavras continua a funcionar, as pessoas agem de acordo com isso, riem e choram, viram para a esquerda e para a direita, o empregado de mesa trás o café ou o chá. Mas não é isso que eu quero questionar. A questão é: será que elas exprimem ainda algum pensamento? Ou serão apenas construções sonoras que impelem as pessoas de um lado para o outro, só porque iluminam constantemente, na mente de cada um, vestígios de uma eterna tagarelice?»
Comboio nocturno para Lisboa
Pascal Mercier
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