quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Página-a-página #207

«As dores do corpo são parte pequena das que trazemos, porque maiores e de maior dano são outras, mais fundas e secretas, feitas à medida de cada um.
A cada dia escolhemos dores que nos chamam pelo nome, a dor de estar perdido, a dor da solidão, a dor de não acreditar. Somos crianças sem a alegria das crianças, animais sem a inocência dos animais, pagãos sem a desculpa da ignorância.
Quantos de nós descremos da vida e andamos nela como numa escada rolante que não nos importa subir? Quantos de nós fingimos o amor sem sabermos que o amor é coisa de acreditar e viver nele, de não pensar, de não questionar, de não pesar nem medir, coisa que não tem preço ou um valor que se possa trocar?
Só o amor nos rouba a morte, só a entrega última e incondicional nos dá o que nos falta. Amar é ter Deus nas mãos e nos lábios, e ninguém pode morrer com Deus nos dedos.»

Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

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