segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Página-a-página #203

«Há uma beleza própria do que não tem propósito e uma alegria que vem com ela. O toque simples de uma mão na face, um telefonema sem assunto, um passeio sem destino, um poema secreto, um assobio, uma pedra redonda guardada no bolso. Coisas que não servem senão para sorrir e sentir que a vida é ainda cheia de mistérios.
Moço não é um homem religioso, mas ainda admira as religiões. Fascina-se com as palavras concatenadas, os gestos precisos, a maravilha de homens juntos que celebram o que não entendem. Como uma dança louca que se basta a si mesma, ritos assentes em palavras que não assentam em nada. Como música e poesia de multidões, como se tudo fosse aceitável e se pudesse respeitar: comer e beber um homem, lavar a alma num rio, beijar uma cruz, matar animais ou ajoelhar-se no chão.»

Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

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