sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Página-a-página #204


«Qual é o meu engano? O que há em mim que causa tanto desacerto entre o que sou e o que desejo? Soubesse eu ao menos o que quero, o que me falta e para onde me atirar, mas nem isso sei.
Tenho uma fome grande e antiga de qualquer coisa que não se pode comer nem tocar. Uma ânsia imensa e permanente que me vigia o sono e me custa entender. É dos homens, isto? É de um homem?
(...)Vão por um lado as intenções e por outro os dias e as mãos. Longe do toque, longe do que interessa. Mas afinal o que interessa? O trabalho, interessa? O dinheiro, o poder, a reputação, são coisas que se guardem? De que precisa um homem? Eu, por exemplo, um homem como este, o que me falta?
(...)Já não sei nada, que se foda o amor, andamos todos para aqui a estragar as vidas uns dos outros com os melhores propósitos. "Eu sempre te amei", "És a mulher da minha vida". O caralho é que és, o caralho é que amei. Quis prazer, como tu quiseste, serenidade, certeza, posse. Sim, quisemos isso tudo e pensámos que nos ficava de graça, uns beijos e algumas palavras, tudo por amor, mas não se trata de amor. Trata-se de outra merda qualquer que nos faz falta e não tem nome, é simplesmente outra merda qualquer.»
Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

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