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«Quando foi capaz de se manter em pé e de dar uns passos, acompanhavam-no até à beira-mar, onde molhava os pés e se deixava acariciar pela luz do Mediterrâneo. Um dia, passou a manhã vendo algumas crianças, vestidas com andrajos e de cara suja, a brincarem na areia e pensou que lhe apetecia viver, pelo menos um pouco mais. Com o tempo, as recordações e a raiva começaram a aflorar e, com elas, o desejo, e por sua vez o medo, de regressar à cidade.
Pernas, braços e restantes engrenagens começaram a funcionar mais ou menos com normalidade. Recuperou o raro prazer de urinar ao vento, sem sentir ardores ou percalços embaraçosos, e disse a si próprio que um homem que conseguia mijar em pé e sem ajuda era um homem em condições de enfrentar as suas responsabilidades.»
O Prisioneiro do Céu
Carlos Ruiz Zafón
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