sexta-feira, 2 de maio de 2014

Página-a-página #129


«Vou permitir-me fazer algumas loucuras, só para que as pessoas digam: ela saiu de Villete! Mas sei que a minha alma estará completa, porque a minha vida tem um sentido. Poderei olhar um pôr-do-sol e acreditar que Deus está por trás dele. Quando alguém me aborrecer muito, eu direi alguma barbaridade, e não me vou incomodar com o que pensam, já que todos dirão: ela saiu de Villete! Vou olhar os homens na rua, dentro dos seus olhos, sem vergonha de me sentir desejada. Mas, logo depois, passarei numa loja de produtos importados, comprarei os melhores vinhos que o meu dinheiro puder comprar, e farei o meu marido beber comigo, porque quero rir com ele - a quem tanto amo. Ele dir-me-á, rindo: estás louca! E eu responderei: claro, estive em Villete! E a loucura libertou-me. Agora, meu adorado marido, tens que pedir férias todos os anos, e levar-me a conhecer algumas montanhas perigosas, porque preciso de correr o risco de estar viva. As pessoas vão dizer: ela saiu de Villete, e está a enlouquecer o marido! E ele entenderá que as pessoas têm razão, e dará graças a Deus porque o nosso casamento está a começar agora, e nós somos loucos - como são loucos os que inventaram o amor.»

Veronika decide morrer
Paulo Coelho

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