sexta-feira, 2 de maio de 2014

Página-a-página #127


«-Qual é o segundo pedido?
-Sair daqui, e morrer lá fora. Preciso de subir ao castelo de Lubljana, que sempre esteve ali, e nunca tive a curiosidade de vê-lo de perto. Preciso de conversar com a mulher que vende castanhas no Inverno, e flores na Primavera; quantas vezes nos cruzámos, e eu nunca lhe perguntei como passava? Quero andar na neve sem casaco, sentindo o frio extremo -eu, que sempre estive bem agasalhada, com medo de apanhar uma constipação. Enfim, Dr. Igor, eu preciso de apanhar chuva no rosto, sorrir para homens que me interessam, aceitar todos os cafés para os quais me convidem. Tenho que beijar a minha mãe, dizer que a amo, chorar no seu colo - sem vergonha de mostrar os meus sentimentos, porque eles sempre existiram, e eu escondi-o.
Talvez eu entre na igreja, olhe aquelas imagens que nunca me disseram nada, e elas acabem por me dizer alguma coisa. Se um homem interessante me convidar para uma discoteca, eu vou aceitar, e vou dançar a noite inteira, até cair exausta. Depois irei para a cama com ele - mas não da maneira como fui com os outros, ora tentando manter o controlo, ora fingindo coisas que não sentia. Quero entregar-me a um homem, à cidade, à vida e, finalmente, à morte.»
Veronika decide morrer
Paulo Coelho

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