quarta-feira, 13 de abril de 2016

Página-a-página #241

«E, cada vez mais, dou comigo a concentrar-me nessa recusa de afastamento. Porque não me interessa o que digam ou quão frequentemente ou persuasivamente o digam: ninguém poderá alguma vez convencer-me de que a vida é um brinde maravilhoso, recompensador. Porque a verdade é esta: a vida é catástrofe. O facto básico da existência - de andarmos por aqui a tentar alimentar-nos e encontrar amigos e todas as outras coisas que fazemos -é a catástrofe. Esqueçam todo esse ridículo e tonto sentimentalismo do que toda a gente diz: o milagre de um recém-nascido, a alegria de uma só flor a desabrochar, Vida, És, demasiado Maravilhosa para Te Compreendermos, etc. Para mim - e persistirei em repeti-lo até morrer, até cair de borco sobre o meu mal-agradecido rosto niilista e estar demasiado fraco para o dizer: melhor nunca ter nascido do que nascer nesta cloaca. Abismo de camas de hospital, caixões, e corações partidos. Sem libertação, sem apelo, sem "transformações", para empregar uma palavra favorita de Xandra, sem caminho para a frente a não ser a idade e a perda, e sem saída a não ser a morte.»
O Pintassilgo
Donna Tartt

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