Hoje não te consigo escrever. O corpo não deixa muito mais do que permanecer no mesmo lugar onde estou. O mundo parou e as palavras esmoreceram. Não te consigo escrever. Mas é Primavera, e deixar o corpo no Inverno é congelar a alma no antigo.
Peguei, então, num retrato teu, gasto pelas minhas mãos nele, e levei-o ao coração. Inspirei toda a força que me resta para permanecer nesta nossa distância. Inspirei, profundamente. E numa folha em branco despejei toda a saudade que acumulei durante estes longos dias de frio. Não em palavras, que já não tas sei dizer. Não em palavras, que já tas mandei, pelo vento, vezes de mais. Desenhei-te. Simplesmente. Traço a traço, como se tocasse no teu rosto. Conheço toda a tua fisionomia, a minha mão já desliza em papel plano desenhando cada curva do teu rosto. Foi o melhor desenho que já vi, olhavas fixamente para mim, como eu queria. E olharás, infinitamente, nesta imagem que és tu e que resultou de mim. Estou feliz.
Alexandra Oliveira Villar
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