segunda-feira, 18 de maio de 2015

Página-a-página #198

 «Tenho de ir. Estou com alguma pressa. Tenho coisas para fazer.
  Não percebo.
  Parece que o lugar onde estamos nunca é suficientemente agradável. Deixa-me lá ver se acolá se está melhor. E, quando lá chegamos, percebemos afinal que a vida também estava a acontecer onde estávamos. Mas agora já estamos acolá e não podemos regressar, porque a vida também acontece acolá.
  Apontou para o chão com o dedo da mão direita.A vida, neste momento, é precisamente aqui. Já se deu conta desta contradição? A mim, sucede-me todos os dias. Vou levar a minha filha à escola e queria era ficar na cama. Mas, se me deixo ficar na cama, sinto-me culpado por não me levantar. As pessoas aparecem precisamente no momento em que eu queria que me deixassem em paz. Mas, se não aparecem, fico aflito porque afinal ninguém me procura. Já alguma vez pensou nisto?
   Ás vezes.
  Quero dizer, não sei quais serão os motivos pelos quais sentimos constantemente estas urgências. Por que razão é que somos assim.
  Insatisfeitos?
  E inquietos.»
O luto de Elias Gro
João Tordo

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