quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Página-a-página #105


«Também a memória não é compreensível à falta de uma abordagem matemática. O dado fundamental é a relação entre o tempo da vida vivida e o tempo da vida armazenada. Nunca se tentou calcular esta relação e não existe de resto qualquer meio técnico de o fazer; no entanto, sem correr grande risco de me enganar, posso supor que a memória não guarda mais que um milionésimo, um bilionésimo, em suma, uma parcela perfeitamente ínfima da vida vivida. Também isso faz parte da essência do homem. Se alguém pudesse reter na sua memória tudo o que viveu, se pudesse a qualquer momento evocar fosse que fragmento do seu passado fosse, nada teria a ver com os humanos: nem os seus amores, nem as suas amizades, nem as suas cóleras, nem a sua faculdade de perdoar ou de se vingar se assemelhariam aos nossos.»

A ignorância
Milan Kundera

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