segunda-feira, 22 de julho de 2013

Página-a-página #58

«O debate entre aqueles que afirmam que o universo foi criado por Deus e aqueles que pensam que ninguém o criou tem como objecto algo que ultrapassa o nosso entendimento e a nossa experiência. Bem mais real é a diferença entre aqueles que contestam o ser tal como foi dado ao homem (pouco importa como e por quem) e aqueles que a ele aderem sem reservas de espécie nenhuma.»

«Todos nós temos necessidade de ser olhados. Podíamos ser divididos em quatro categorias consoante o tipo de olhar sob o qual desejamos viver. A primeira procura o olhar de um número infinito de olhos anónimos ou, por outras palavras, o olhar do público.(...) Na segunda categoria, incluem-se aqueles que não podem viver sem o olhar de uma multidão de olhos familiares. São os incansáveis organizadores de jantares e cocktails. (...) Vem em seguida a terceira categoria, a categoria daqueles que precisam de estar sempre sob o olhar do ser amado. A sua condição é tão perigosa como a das pessoas do primeiro grupo. Se os olhos do ser amado se fecham, a sala fica mergulhada na escuridão. (...) Finalmente, há uma quarta categoria, bem mais rara, que são aqueles que vivem sob os olhares imaginários de seres ausentes. São os sonhadores.
Sexta Parte:
A grande marcha
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

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