segunda-feira, 22 de julho de 2013

Página-a-página #57

«Pouco depois, ainda fez a reflexão que menciono a seguir para esclarecer o capítulo precedente: suponhamos que havia no universo um planeta onde pudéssemos vir ao mundo pela segunda vez. Ao mesmo tempo, lembrar-nos-íamos perfeitamente da vida passada na Terra, de toda a experiência já adquirida. E talvez houvesse outro planeta onde viéssemos à luz pela terceira vez com a experiência das duas vidas anteriores. E talvez fosse havendo sempre mais planetas onde a espécie humana fosse renascendo sempre um grau mais acima na escala da maturidade.
Nós, cá na terra (no planeta número um, no planeta da inexperiência), não podemos ter senão uma ideia muito vaga do que aconteceria ao homem nos outros planetas. Tornar-se-ia mais sábio? Poderá alguma vez ter a maturidade ao seu alcance? Poderá ele chegar a ela através da repetição? Só na perspectiva desta utopia é que as noções de pessimismo e optimismo têm sentido. Optimista é quem pensa que a história humana será menos sangrenta no planeta número cinco. Pessimismo é quem não acredita nisso.»
Quinta Parte:
O peso e a leveza
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Sem comentários:

Enviar um comentário