domingo, 21 de julho de 2013

Página-a-página #54


«Mas um encontro não é  precisamente tanto mais importante e cheio de significação quanto mais depende de um grande número de circunstâncias fortuitas? Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. O que acontece por necessidade, o que já era esperado e se repete todos os dias, é perfeitamente mudo. Só o acaso fala. Nele é que deve tentar-se ler, como as ciganas fazem com as figuras deixadas no fundo de uma chávena pela borra do café.»

«É natural que quem quer "elevar-se" sempre mais, acabe por ter vertigens. O que são as vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradouro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair. É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos de pavor. (...) Ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza.»
Segunda Parte:
O corpo e a alma
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

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