segunda-feira, 22 de julho de 2013

Página-a-página #59


«É claro que o Génesis é obra do homem e não do cavalo. Ninguém pode ter a certeza absoluta de que Deus realmente queria que o homem reinasse sobre todas as outras criaturas. O mais provável é que o homem tenha inventado Deus para santificar o seu poder sobre a vaca e o cavalo, poder esse que usurpara. Sim, porque, na verdade, o direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa que a humanidade, no seu conjunto, nunca contestou, mesmo durante as guerras mais sangrentas. É um direito que só nos parece natural porque quem está no topo da hierarquia somos nós. (...) Talvez depois de um marciano o ter atrelado a uma charrua ou enquanto estivesse a assar no espeto de um habitante da via Láctea, o homem se lembrasse das costeletas de vitela que costumava comer e apresentasse (tarde demais) as suas desculpas à vaca.»
Sétima parte:
O Sorriso de Karenine
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Página-a-página #58

«O debate entre aqueles que afirmam que o universo foi criado por Deus e aqueles que pensam que ninguém o criou tem como objecto algo que ultrapassa o nosso entendimento e a nossa experiência. Bem mais real é a diferença entre aqueles que contestam o ser tal como foi dado ao homem (pouco importa como e por quem) e aqueles que a ele aderem sem reservas de espécie nenhuma.»

«Todos nós temos necessidade de ser olhados. Podíamos ser divididos em quatro categorias consoante o tipo de olhar sob o qual desejamos viver. A primeira procura o olhar de um número infinito de olhos anónimos ou, por outras palavras, o olhar do público.(...) Na segunda categoria, incluem-se aqueles que não podem viver sem o olhar de uma multidão de olhos familiares. São os incansáveis organizadores de jantares e cocktails. (...) Vem em seguida a terceira categoria, a categoria daqueles que precisam de estar sempre sob o olhar do ser amado. A sua condição é tão perigosa como a das pessoas do primeiro grupo. Se os olhos do ser amado se fecham, a sala fica mergulhada na escuridão. (...) Finalmente, há uma quarta categoria, bem mais rara, que são aqueles que vivem sob os olhares imaginários de seres ausentes. São os sonhadores.
Sexta Parte:
A grande marcha
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Documentário: N é um número


Paul Erdos

Página-a-página #57

«Pouco depois, ainda fez a reflexão que menciono a seguir para esclarecer o capítulo precedente: suponhamos que havia no universo um planeta onde pudéssemos vir ao mundo pela segunda vez. Ao mesmo tempo, lembrar-nos-íamos perfeitamente da vida passada na Terra, de toda a experiência já adquirida. E talvez houvesse outro planeta onde viéssemos à luz pela terceira vez com a experiência das duas vidas anteriores. E talvez fosse havendo sempre mais planetas onde a espécie humana fosse renascendo sempre um grau mais acima na escala da maturidade.
Nós, cá na terra (no planeta número um, no planeta da inexperiência), não podemos ter senão uma ideia muito vaga do que aconteceria ao homem nos outros planetas. Tornar-se-ia mais sábio? Poderá alguma vez ter a maturidade ao seu alcance? Poderá ele chegar a ela através da repetição? Só na perspectiva desta utopia é que as noções de pessimismo e optimismo têm sentido. Optimista é quem pensa que a história humana será menos sangrenta no planeta número cinco. Pessimismo é quem não acredita nisso.»
Quinta Parte:
O peso e a leveza
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Página-a-página #56


«Porque as perguntas verdadeiramente importantes são as que uma criança pode formular - e apenas essas. Só as perguntas mais ingénuas são realmente perguntas importantes. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é um obstáculo para lá do qual não se pode passar. Ou, por outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência.»


Quarta Parte:
O corpo e a alma
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Documentário: Um cérebro sobredotado


Danniel Tammet

Equações









Página-a-página #55


«Para Sabina, viver significa ver. A visão encontra-se limitada por duas fronteiras: uma luz de tal modo intensa que nos cega e uma obscuridade total. Talvez seja daí que lhe vem a repugnância por todos os extremismos. Os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida, e, tanto em arte como em política, a paixão do extremismo é um desejo de morte disfarçado.»

«o fim que se persegue está sempre oculto. Uma rapariga que quer um marido, quer uma coisa que desconhece completamente. O rapaz que anda em busca da glória não faz a mínima ideia do que a glória é. O que dá sentido à nossa conduta é sempre uma coisa completamente desconhecida.»

Terceira Parte:
As palavras mal entendidas
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Documentário: Belas equações


«A coisa mais incompreensível sobre o universo é que ele é compreensível.»

Albert Einstein - Isaac Newton - Paul Dirac - Stephen Hawking

domingo, 21 de julho de 2013

Página-a-página #54


«Mas um encontro não é  precisamente tanto mais importante e cheio de significação quanto mais depende de um grande número de circunstâncias fortuitas? Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. O que acontece por necessidade, o que já era esperado e se repete todos os dias, é perfeitamente mudo. Só o acaso fala. Nele é que deve tentar-se ler, como as ciganas fazem com as figuras deixadas no fundo de uma chávena pela borra do café.»

«É natural que quem quer "elevar-se" sempre mais, acabe por ter vertigens. O que são as vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradouro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair. É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos de pavor. (...) Ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza.»
Segunda Parte:
O corpo e a alma
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Página-a-página #53


«O eterno retorno é uma ideia misteriosa de Nietzsche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filósofos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há-de repetir outra vez e que essa repetição se há-de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito! Que significado terá este mito insensato?»

«Não há nada mais pesado do que a compaixão. Mesmo a nossa própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada em centenas de ecos.»

Primeira Parte:
O peso e a leveza
A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

Uma boa história nunca acaba #53


Dans la maison (2012). Thriller. Mistério. Claude Garcia, um rapaz de 16 anos, infiltra-se na casa de um colega de turma com um objetivo: observar a família e inspirar-se para a sua escrita. Germain, o seu professor de francês, percebe que o rapaz é diferente e dotado para a literatura, acabando por ganhar um novo fôlego no ensino. Mas com o passar do tempo, os seus textos ganham contornos cada vez mais perversos e o professor terá que decidir se o denuncia ou o encoraja a continuar... Um filme bem pensado e que nos envolve na sua trama. A não deixar de ver!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Página-a-página #52


«Não cabe ao homem colocar-se em oposição à sociedade, mas manter-se em atitude compatível com as leis do seu ser, que não estarão em oposição às leis governamentais se ele tiver a sorte de se defrontar com um governo justo.»

«...se uma pessoa avançar confiantemente na direcção dos seus sonhos, se se esforçar por viver a vida que imaginou, há-de deparar com um êxito inesperado nas horas rotineiras. Há-de deixar para trás uma porção de coisas e atravessar uma fronteira invisível; leis novas, universais e mais abertas começarão por se estabelecer em redor ou dentro dela; ou então as leis velhas hão-de ser expandidas e interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ela há-de viver com a aquiescência de uma ordem superior de seres. À medida que ela simplificar a sua vida, as leis do universo hão-se parecer-lhe menos complexas, a solidão deixará de ser solidão, a pobreza deixará de ser pobreza, a fraqueza deixará de ser fraqueza. Se construístes castelos no ar, não terá sido em vão esse vosso trabalho; porque eles estão onde deviam estar. Agora, por baixo, colocai os alicerces.»
Conclusão
Walden ou a vida nos bosques
Henry David Thoreau

domingo, 14 de julho de 2013

Uma boa história nunca acaba #52


Sliding doors (1998). Comédia. Drama. Fantasia. Este é um daqueles filmes que nos mostra como uma  simples decisão tomada no nosso quotidiano pode mudar completamente o rumo que as nossas vidas tomam. Mas será que o amor tem uma margem de erro? "E se...?" é a frase que marca este filme do inicio ao fim, um filme que apesar de parecer demasiado previsível nos obriga a mudar de opinião diversas vezes. Aconselho!