«(...) Todavia, bem vistas as coisas, que lhe importava? A nossa existência era demasiado breve para arcar-mos com o fardo dos erros dos outros aos ombros. Cada homem vivia a sua própria vida e pagava o preço por vivê-la. Só era pena termos de pagar repetidamente por um único erro. Na verdade, tínhamos de pagar eternamente. Nos seus negócios com os homens, o Destino nunca fechava contas.
Há certos momentos, dizem-nos os psicólogos, em que a paixão pelo pecado, ou por aquilo a que o mundo chama pecado, domina de tal modo uma personalidade, que cada fibra do corpo, bem como cada célula do cérebro, parece adquirir instintivamente impulsos temíveis. Em tais momentos, os homens e as mulheres perdem a liberdade de escolha.Avançam para o seu terrível fim como um autómato. É-lhes negada qualquer alternativa, e a sua consciência é aniquilada ou, no caso de subsistir, vive apenas para imbuir de fascínio a rebeldia e de encanto a desobediência. Pois todos os pecados, como os teólogos não se cansam de nos dizer, são pecados de desobediência. Quando aquele espírito celeste, aquela estrela da manhã do mal, se despenhou do céu, foi como rebelde que caiu.»
O Retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde
Cap. 16
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