segunda-feira, 14 de março de 2016

Página-a-página #239

«Volta e meia, ponho-me a pensar se serei a única pessoa que passa a vida a cometer o mesmo erro vezes sem conta, ou se isso é uma característica humana. Tenderemos todos para um só pecado capital?
A ser assim, o meu é o ciúme, e é tentador interpretar esta triste coerência como uma questão de carácter. Mas o meu pai, se ainda fosse vivo, sem dúvida que protestaria. Quem é que eu me achava? Hamlet? Alguma da investigação atual na área da psicologia sugere que o carácter desempenha um papel surpreendentemente pequeno no comportamento humano. Pelo contrário, revelado-nos muito sensíveis a alterações triviais nas circunstâncias que nos rodeiam. Nesse aspeto, somos como os cavalos, se bem que menos dotados.
Não estou convencida disso. Com o passar dos anos, cheguei à conclusão de que a maneira como as pessoas reagem a nós tem menos que ver com o que fizemos e mais com quem elas são. É claro que me convém pensar desse modo. Todos aqueles miúdos na escola que foram péssimos para mim? Deviam ser pessoas profundamente infelizes!
Os estudos não sustentam o meu ponto de vista. Haverá sempre mais estudos. Mudaremos de ideias e ver-se-á que afinal eu tinha razão, até mudarmos de novo de ideias e eu voltar a estar errada.»
Estamos todos completamente fora de nós
Karen Joy Fowler

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