Intensamente.
Intensamente.
No limite do absurdo nada existe. E no entretanto existes tu.
Hoje abeirei-me de uma mesa alta, estava sozinha no mundo, tinha de
escrever. Lá fora era Primavera embora eu preferisse que fosse Outono, era-me
mais familiar àquela ocasião. Entre tragos de café quente enlouquecia. E na
loucura, como sabes, nada existe, assim como no limite do absurdo nada existe.
Escrevia palavras desconexas, e pensava no ridículo da situação. Diziam-me
escritora pela habilidade humana de com o membro que, por constituição, se
designou de mão empunhar um objecto que, pela mesma constituição, se elaborou e
se chamou de caneta depositar pedaços de tinta alinhados (note-se este
adjectivo só ter relativo valor dentro do paradigma desta mesma ridícula
constituição) sobre uma folha de papel. E por isso era escritora. E por tantas
outras ridículas coisas era outras tantas ridículas almas, sendo sumariamente
eu. E o ridículo da situação a assolar-me. No absurdo chegava a ser astronauta
quando, por impulso de liberdade, saltava e tirava os pés do chão habitando,
por meras fracções de segundo, o espaço. No limite do absurdo sou tudo. E sendo
tudo serei plena. Plena tanto de tudo como de vazio. De nada. E o ridículo da
situação a assolar-me. No absurdo do limite nada existe, por tudo existir em
plenitude. E no entretanto existes tu. Intensamente. Intensamente.
Alexandra Oliveira Villar
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