quarta-feira, 1 de abril de 2015

Abril #17

Intensamente.
Intensamente.
No limite do absurdo nada existe. E no entretanto existes tu.
Hoje abeirei-me de uma mesa alta, estava sozinha no mundo, tinha de escrever. Lá fora era Primavera embora eu preferisse que fosse Outono, era-me mais familiar àquela ocasião. Entre tragos de café quente enlouquecia. E na loucura, como sabes, nada existe, assim como no limite do absurdo nada existe. Escrevia palavras desconexas, e pensava no ridículo da situação. Diziam-me escritora pela habilidade humana de com o membro que, por constituição, se designou de mão empunhar um objecto que, pela mesma constituição, se elaborou e se chamou de caneta depositar pedaços de tinta alinhados (note-se este adjectivo só ter relativo valor dentro do paradigma desta mesma ridícula constituição) sobre uma folha de papel. E por isso era escritora. E por tantas outras ridículas coisas era outras tantas ridículas almas, sendo sumariamente eu. E o ridículo da situação a assolar-me. No absurdo chegava a ser astronauta quando, por impulso de liberdade, saltava e tirava os pés do chão habitando, por meras fracções de segundo, o espaço. No limite do absurdo sou tudo. E sendo tudo serei plena. Plena tanto de tudo como de vazio. De nada. E o ridículo da situação a assolar-me. No absurdo do limite nada existe, por tudo existir em plenitude. E no entretanto existes tu. Intensamente. Intensamente.
Alexandra Oliveira Villar

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