«(...)Explicava-me que o Sol é uma estrela pequena entre cem milhões de estrelas na Via Láctea e que havia seguramente milhões de outros universos para além daquele que agora podemos ver.
-Ou seja, Popo, somos menos que o suspiro de um piolho - era a minha conclusão lógica.
-Não te parece fantástico, Maya, que estes suspiros de piolhos sejam capaz de combater o prodígio do universo? Um astrónomo precisa de mais imaginação poética do que de senso comum, porque a magnífica complexidade do universo não se pode medir nem explicar, apenas intuir.
E falava-me do gás e da poeira estelar de que se formam as belíssimas nubelosas, verdadeiras obras de arte, pinceladas intrincadas de cores magníficas no firmamento, de como nascem e morrem as estrelas, dos buracos negros, do espaço e do tempo, de como possivelmente tudo se originou com o Big Bang, uma explosão indescrítivel, e das partículas fundamentais que formaram os primeiros protões e neutrões, e assim, em processos cada vez mais complexos, nasceram as galáxias, os planetas, a vida.
-Vimos das estrelas - costumava dizer-me.
-Isso é o que digo eu - acrescentava a minha Nini, tendo em mente os horóscopos.»
O Caderno de Maya
Isabel Allende