terça-feira, 28 de julho de 2015

Página-a-página #200

«Tenta imaginar os milhões de acções que cada parte do corpo da menina irá desempenhar ao longo da vida. A luz que lhe espera os olhos, as músicas por inventar, as mãos que tocará, o ar que lhe atravessará o corpo. As partes que fazem a menina, tanto átomo improvável, tanta força contrária.
Os bebés são máquinas de atrair coisas, alimento, ar, sonhos, afectos. Como serão os sonhos de um bebé? Em que momento começam e de que se fazem? Constança lembra-se de estar grávida e de sonhar com coisas más, de acordar com angústia e ter medo de que a menina se fizesse com elas.
Constança não sabe o que de seu estará na menina, o que lhe terá dado, querendo ou não querendo, que desejos impossíveis, que medos que não conhece, os seus pecados todos num código de sístoles e diástoles. Saberá dela o que ela não sabe, o ritmo exacto do que é, as suas músicas secretas. Constança canta.»
Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

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