quarta-feira, 1 de julho de 2015

Julho #20

Esta é a noite que eu tanto temia. Anoiteceu em breu cedo demais e não há no barulho das ruas a mais ínfima esperança no amanhecer. São todos vultos negros calados. Todos mudos. Deambulam uns entre os outros numa massa amorfa desprezível. Cada um é tão noite quanto eu desejo não ser. Emanam dos corpos um cheiro medonho a cobardia. Repetem todos incessantemente as mesmas palavras. Aquelas que lhes ensinaram.

Por dentro da janela vejo este horror. E escrevo, o mesmo horror. Não entendo o significado que as palavras ditas pela minha boca insana possam ter. Escrevo para não morrer sufocada, ciente de que de nada vale gastar palavras entre mudos. O meu corpo arde em febre, transpira em suores arrepiantes, a doença instalou-se. As palavras já deliram mais que o próprio pensamento. Talvez nunca tenha escrito tão lucidamente, afinal a doença tomou conta de mim. E ela dói-me, mas eu prefiro esta doença à doença do meu país!
Alexandra Oliveira Villar

Sem comentários:

Enviar um comentário