sexta-feira, 31 de julho de 2015

Página-a-página #202


«Somos todos uns sentimentais e por isso demoramos no que nos dói. Temos o choro fácil que dá ou não dá em lágrimas, guardamos as dores cheias de pormenor enquanto as felicidades ficam por ali, confusas, com algumas caras, alguns sons, incertas e vagas. Lembramos os sapatos que calçávamos quando alguém morreu, a hora da notícia, o programa que passava nesse instante e até as vergonhas que passámos. Folheemos as páginas do riso e pouco encontraremos, algumas frases, momentos caricatos, elementos de uma paisagem. Pouco e mal contado, estávamos distraídos, demasiado ocupados na felicidade para lhe fazermos o retrato. Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de mágoas que não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos doem, e doem sempre. Descuramos o arquivo do bem que apesar de tudo nos vai acontecendo, somos tolos de lágrimas.»

Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Página-a-página #201

«Afinal, talvez queira minar a empresa de que faz parte, garantir-lhe a falência, o insucesso. Assegurar-se de que o mundo novo não funcione pela mesma razão que o velho não funcionou, porque há homens que não cabem onde os querem meter. Porque há quem nasça com uma bomba desenhada na cabeça e passe a vida toda à espera de rebentar onde possa fazer mais danos. Por dentro do poder, da igreja, do escritório, da família, das letras, de uma casa cheia de fantasmas. Nenhum medo pode ser perfeito se não tiver lugar para homens imperfeitos. No limite, talvez o único sistema possível seja o que parta de uma humanidade toda imperfeita em todas as coisas, a excentricidade como premissa.»
Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

terça-feira, 28 de julho de 2015

Página-a-página #200

«Tenta imaginar os milhões de acções que cada parte do corpo da menina irá desempenhar ao longo da vida. A luz que lhe espera os olhos, as músicas por inventar, as mãos que tocará, o ar que lhe atravessará o corpo. As partes que fazem a menina, tanto átomo improvável, tanta força contrária.
Os bebés são máquinas de atrair coisas, alimento, ar, sonhos, afectos. Como serão os sonhos de um bebé? Em que momento começam e de que se fazem? Constança lembra-se de estar grávida e de sonhar com coisas más, de acordar com angústia e ter medo de que a menina se fizesse com elas.
Constança não sabe o que de seu estará na menina, o que lhe terá dado, querendo ou não querendo, que desejos impossíveis, que medos que não conhece, os seus pecados todos num código de sístoles e diástoles. Saberá dela o que ela não sabe, o ritmo exacto do que é, as suas músicas secretas. Constança canta.»
Debaixo de algum céu
Nuno Camarneiro

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uma boa história nunca acaba #123


Gravity (2013). Thriller. Ficção científica. A Dra. Ryan Stone é uma brilhante engenheira médica na sua primeira missão espacial, com o astronauta veterano Matt Kowalsky, no comando do seu último vôo antes de se reformar. Mas numa caminhada espacial de rotina acontece um desastre. A nave é destruída, deixando Stone e Kowalsky completamente sozinhos – amarrados apenas um ao outro e caindo em espiral pela escuridão. O silêncio ensurdecedor diz-lhes que perderam qualquer ligação com a Terra...e qualquer hipótese de salvamento. O medo transforma-se em pânico e cada respiração rouba o pouco oxigénio que têm disponível. O único caminho para voltarem a casa pode ser irem mais longe na imensidão aterrorizante do espaço.. Este é um filme para quem gosta de coisas relacionadas com o Espaço e portanto muito provavelmente não irá agradar a toda a gente. Ainda assim gostei bastante do final e por essa razão aconselho a todos os interessados!

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Clifford Stoll: The call to learn


Mais uma das grandes TED Talks que vale a pena ver! Desta vez com Clifford Stoll intitulada 'O chamamento para a aprendizagem'. Clifford Stoll é um astrónomo, professor e autor norte-americano, também conhecido por fabricar as chamadas 'Klein Bottles' que são superfícies não orientadas com volume zero. Cheia de humor e com uma grande personalidade, esta palestra merece ser vista! Dêm uma vista de olhos!

terça-feira, 21 de julho de 2015

Uma boa história nunca acaba #122


Inside out (2015). Animação. Aventura. Comédia. Quando o pai de Riley muda de emprego, toda a família se vê obrigada a abandonar a pequena cidade onde sempre viveu no Minnesota para se instalar em São Francisco. Para uma jovem prestes a entrar na adolescência, esta mudança não poderia acontecer em pior altura. Apesar disso, ela sabe que tem de se habituar a esta nova circunstância e não se deixar cegar pelos sentimentos. A Alegria, o Medo, a Raiva, a Repulsa e a Tristeza são as cinco emoções que vivem no quartel-general do seu cérebro, onde a Alegria – a capitã – tenta equilibrar os estados de espírito e, simultaneamente, fazer com que a vida de Riley nunca deixe de ser feliz. Mas quando a Alegria e a Tristeza acidentalmente se perdem dentro do cérebro da menina, a sua vida fica virada do avesso. Com o centro de controlo sem a Alegria a comandar, o Medo, a Raiva e a Repulsa tomam o controlo da sua vida. Assim, numa corrida contra o tempo, duas emoções opostas unem esforços para percorrer as várias secções existentes na jovem mente e encontrar o caminho de volta. Tudo isto antes que a família de Riley perca as estribeiras com as suas flutuações de humor… Produzido pelos estúdios Pixar, uma comédia de animação para toda a família! Este blog aconselha!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Top 2: Séries que eu quero começar a ver


Under The Dome
É uma série televisiva americana de drama, fantasia, ficção científica e mistério. É baseada no livro. com o mesmo nome, de Stephen King e conta a história dos moradores de uma pequena cidade americana, onde uma enorme e transparente cúpula indestrutível, de repente os separa do resto do mundo. Sem acesso à internet, telefone e televisão, as pessoas presas dentro da cúpula devem encontrar suas próprias maneiras de sobreviver com a diminuição dos recursos e as crescentes tensões. Enquanto as forças militares, o governo e os meios de comunicação posicionados fora da barreira tentam derruba-lá, um pequeno grupo de pessoas presas lá dentro, tentam descobrir o que é, de onde veio, e quando ou se ela vai embora.


Breaking Bad.
É também uma série americana dramática, que conta a história de Walter White , um professor de química do ensino secundário pouco apreciado, com um filho adolescente que sofre paralesia cerebral e uma esposa grávida. Quando a este é diagnosticado cancro do pulmão sofre um colapso e envolve-se numa vida de crimes, produzindo e vendendo metanfetaminas com o seu ex-aluno Jesse Pinkman, com o objectivo de assegurar o futuro financeiro de sua família no caso da sua morte. Breaking Bad é amplamente considerada como uma das melhores séries de televisão estadunidense de todos os tempos e portanto quero muito começar a vê-la!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Uma boa história nunca acaba #121


Queen and country (2015). Drama. Grã-Bretanha, 1943. O pequeno Bill está extasiado por a escola ter sido destruída por uma bomba Luftwaffe extraviada. Para ele, a guerra é um jogo de heróis e nada o parece assustar. Nove anos depois, já com 18 anos, o rapaz é obrigado a cumprir dois anos de serviço militar obrigatório no exército. Durante a recruta, conhece Percy, um rapaz inconsequente e muito diferente de si, de quem se torna inseparável. Após a formação inicial, muitos são destacados para a guerra da Coreia, mas Bill e Percy são enviados para um campo de treinos semelhante a uma prisão, onde terão a responsabilidade de formar novos soldados. Apesar da tensão daquele lugar, eles desfrutam dos momentos em que saem do campo para se divertirem. É então que Bill se apaixona pela rapariga errada: uma mulher perturbada que conhece por acaso num recital…Este é um daqueles filmes para quem gosta de histórias de guerra e romance. Na minha opinião um filme de sábado à tarde mas que não deixa de agradar!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Julho #20

Esta é a noite que eu tanto temia. Anoiteceu em breu cedo demais e não há no barulho das ruas a mais ínfima esperança no amanhecer. São todos vultos negros calados. Todos mudos. Deambulam uns entre os outros numa massa amorfa desprezível. Cada um é tão noite quanto eu desejo não ser. Emanam dos corpos um cheiro medonho a cobardia. Repetem todos incessantemente as mesmas palavras. Aquelas que lhes ensinaram.

Por dentro da janela vejo este horror. E escrevo, o mesmo horror. Não entendo o significado que as palavras ditas pela minha boca insana possam ter. Escrevo para não morrer sufocada, ciente de que de nada vale gastar palavras entre mudos. O meu corpo arde em febre, transpira em suores arrepiantes, a doença instalou-se. As palavras já deliram mais que o próprio pensamento. Talvez nunca tenha escrito tão lucidamente, afinal a doença tomou conta de mim. E ela dói-me, mas eu prefiro esta doença à doença do meu país!
Alexandra Oliveira Villar

Um desafio por mês #32