quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Outubro #11

Olho fixamente pela janela de casa para algo que desconheço e sei infinitamente distante. Fito a paisagem fundindo o meu corpo a cada árvore enraizada na planície que contemplo. Corre dentro de mim ar fresco das lezírias e eu entrego-me plenamente à naturalidade do belo. De repente atravessa-me o pensamento folhas de um Outono no qual não tinha reparado. Estas folhas trazem nelas escritas todo o meu ser, e fazem-me à força relembrar momentos atirados ao esquecimento. Todo o meu corpo estremece com a fulminante certeza da passagem do tempo. Andamos tão embebidos com o ciclo rotativo dos dias que perdemos a corrida fulgurante da vida. De repente é Outono e eu não o sabia. De repente será o fim e eu não o saberei. E no entretanto vivemos. Fomos grandes, criámos mundos e movemos vontades e, no fundo, fomos tão pouco, sempre ludibriados por o que não sabíamos poder ter sido se o quiséssemos. Mas não o fomos e hoje é Outono.

Alexandra Oliveira Villar

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