Olho fixamente
pela janela de casa para algo que desconheço e sei infinitamente distante. Fito
a paisagem fundindo o meu corpo a cada árvore enraizada na planície que
contemplo. Corre dentro de mim ar fresco das lezírias e eu entrego-me
plenamente à naturalidade do belo. De repente atravessa-me o pensamento folhas
de um Outono no qual não tinha reparado. Estas folhas trazem nelas escritas
todo o meu ser, e fazem-me à força relembrar momentos atirados ao esquecimento.
Todo o meu corpo estremece com a fulminante certeza da passagem do tempo. Andamos
tão embebidos com o ciclo rotativo dos dias que perdemos a corrida fulgurante
da vida. De repente é Outono e eu não o sabia. De repente será o fim e eu não o
saberei. E no entretanto vivemos. Fomos grandes, criámos mundos e movemos
vontades e, no fundo, fomos tão pouco, sempre ludibriados por o que não
sabíamos poder ter sido se o quiséssemos. Mas não o fomos e hoje é Outono.
Alexandra Oliveira Villar