terça-feira, 2 de setembro de 2014

Página-a-página #157

«Não lhe parece impressionante? A personalidade está constantemente a morrer e sentimo-lo como uma continuidade. Entretanto, apavoramo-nos com a morte, cuja experiência nos é inacessível. Todavia, é este medo irracional que dá sentido às nossas vidas. Marramos uns contra os outros e mutilamo-nos a nós próprios em nome da vitória e da fama, como se estas pudessem enganar a mortalidade e prolongar, de alguma forma, a nossa existência. Depois, quando a morte nos derrota, atormentamo-nos com a pequenez das nossas conquistas.
(...) Defendo que a ambição é absurda e, no entanto, não me liberto dessa servidão. É como ser um escravo a vida inteira e, um dia, aprender que o amo nunca existiu e voltar ao trabalho na mesma. Consegue imaginar uma força no universo tão poderosa como esta? 
(...) Eis um facto: nada, em toda a civilização, tem sido tão produtivo como a ambição pura, absurda. Sejam quais forem os seus malefícios, nada foi responsável por tanta criação. Catedrais, sonatas, enciclopédias: o amor por Deus não esteve por detrás disto, nem o amor pela vida. Mas o amor do homem pela admiração do seu semelhante.»
Os imperfeccionistas
Tom Rachman

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