Ela olha-se ao espelho e
acha-se bonita. Nem as rugas na cara a fazem imaginar outro sorriso. A tez é a
única possível. Colorida por anseios e desassossegos, força e equilíbrio. Nas
concentrações descritas em livros de alfarrabista serem de mulher, desta
mulher.
No olhar de pálpebras já
semi-caídas pelos números da vida transparece um olho de amêndoa doce de sonho.
Ajeita o cabelo louro com a certeza de quem fez tudo bem. Ela sabe-o. Vê no
espelho a mulher que quis ser em criança. Era exactamente aquela, com as mesmas
rugas e com o mesmo olhar. Era o esboço realizado. O sonho concretizado. A
mulher.
Fuma um cigarro como sempre
fumou, em cada trago entranha o sabor do momento e nele desperta o futuro certo
que há-de ser. Vive para si e vive-se no mundo. É para ela que faz o mundo
girar e para ela que faz a vida acontecer. A voz por vezes já falha palavras
agora despidas de qualquer incerteza, o coração nunca lhe falhou. E assim será
até ao último dos dias. O dia em que o coração lhe falhará. O único dos dias em
que ele não a respeitará.
Hoje, ela olha-se ao espelho e
sabe-se bonita.
Alexandra Oliveira Villar
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