sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Página-a-página #72


«Não me lembro de quanto tempo passei na prisão. Depois do primeiro ano, uma pessoa começa a perder tudo, até a razão. Ao sair passei a viver na rua, onde o Daniel me encontrou uma eternidade depois.Havia muitos como eu, companheiros de galeria ou de amnistia. Os que tinham sorte contavam com alguém de fora,alguém ou alguma coisa para onde regressar. Os restantes juntávamo-nos ao exército deserdados. Uma vez que nos dão o cartão desse clube, nunca deixamos de ser sócios. Muitos de nós só saem de noite, quando o mundo não olha. Conheci muitos como eu. Raramente os voltava a ver. A vida na rua é curta. As pessoas olham para nós com nojo, mesmo as que nos dão esmola, mas isso não é nada comparado com a repugnância que a pessoa inspira a si própria. É como viver aprisionado num cadáver que anda, que sente fome, que tresanda e que resiste a morrer.»
A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Zafón

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