Alexandra Oliveira Villar
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Fevereiro #27
Hoje não é o dia. A cidade não acordou virada para o mar. As gaivotas não acordaram as areias da praia. E o vento tristemente não baila nas árvores. Hoje a cidade acordou num impulso matutino, abeirou-se da varanda, ia abrir os pulmões à luz do novo dia mas as ruas estavam diferentes. A luz que se queria entranhar pelo seu corpo não era a luz branca que percorreu calçadas e ruelas na história deste povo. Não se ouvia o pulsar dos coraçoes num novo dia que começa. A cidade tinha-se transfigurado. Era já outra coisa em que não se reconhecia. Fechou os olhos, susteu a respiraçao e voltou a fechar-se em casa. A cidade queria manter a própria cidade que desde sempre conheceu no coraçao, e não impregnar desta nova substância. Ela era pura e via-se em estado contaminado fora da janela. Cada cidade tem o seu lugar neste mundo, esse contexto pertence-lhe e será sempre o único a dar-lhe existência. Uma cidade noutro lugar nunca será cidade, ou melhor, será uma cidade sem alma. Hoje não é o dia. Mas amanhã pode já nem sequer haver luz. E quem diz cidade, diz o homem.
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