quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Página-a-página #26


«Quando Bernard o acompanhou até ao carro, Paul disse-lhe muito melancolicamente: "O Urso está enganado e os imagólogos têm razão. O homem não é mais do que a sua imagem. Os filósofos bem podem explicar-nos que a opinião do mundo pouco conta e que só importa aquilo que somos. Mas os filósofos não percebem nada. Enquanto vivermos entre os seres humanos, seremos aquilo que os seres humanos consideram que somos. Passamos por velhacos ou manhosos quando não paramos de perguntar a nós próprios como nos vêem os outros, quando nos esforçamos por ser o mais simpático possível  Mas entre o meu eu e o do outro, existirá algum contacto directo, sem a mediação dos olhos? Será pensável o amor sem uma perseguição angustiada da nossa própria imagem no pensamento da pessoa amada? Quando deixamos de nos preocupar com a maneira como o outro nos vê, deixamos de o amar. (...)»

Terceira parte: A luta
O asno integral
A imortalidade
Milan Kundera

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